Em uma democracia as classes dominantes ocupam posições estratégicas nos
processos decisórios e detém o poder de definir, de fato, os destinos do país.
E por serem classes dominantes desfrutam de tudo de melhor que o Brasil dispõe.
Mas, qual é a contrapartida delas para com o país? O que é eticamente razoável
exigir delas? Como podemos diferenciar as elites das oligarquias (poder
exercido por pequeno número de pessoas)?
Afinal o que impede o nosso desenvolvimento? Qual o papel do entulho de
privilégios oligárquicos?
É de
conhecimento nos meios acadêmicos o fato de que todos os modernos países tenham
evoluído de sociedades de muitos privilégios - monarquias, feudalismo,
ditaduras - para sociedades com poucos ou nenhum privilégio, através de
critérios baseados na meritocracia e na igualdade de todos perante às leis,
casos da Inglaterra, Estados Unidos, França, Alemanha, Japão e outros, o que, infelizmente,
ainda não ocorreu no Brasil, onde temos uma sociedade com muitos privilégios,
que é, dentre outros, a razão do baixo crescimento do país.
A
República e a democracia exigem, para sua implantação e manutenção, a aplicação
literal e diuturna do princípio da “igualdade e do estado de direito”.
Assim,
o privilégio em si é a negação dos conceitos de República e de Democracia. Pode-se
dizer que as elites são as classes dominantes que se vêm como parte do país e
que entendem a importância de priorizar os interesses nacionais, acima de
qualquer outro interesse. Já as oligarquias são as classes dominantes que não
tem qualquer sentimento de nacionalidade, no sentido de pertencer a um país, e
colocam seus interesses acima e antes de qualquer outro direito.
O
papel de uma verdadeira elite é o da criação e geração de riquezas materiais e
intelectuais que contribuam para o desenvolvimento econômico e social do país.
E neste processo priorizem o interesse público e o bem comum acima de qualquer
outra consideração.
São as classes dominantes que posam de elites, mas são
oligarquias travestidas de elites, presentes nas áreas empresariais e
financeiras (cartéis e oligopólios), políticas e partidárias (governantes que
privilegiam os interesses partidários e dos grupos dominantes ao invés do
interesse público), sindicais (ex-sindicalistas que se alojam em sinecuras e
empregos públicos, ou simplesmente se perpetuam nos sindicatos), burocratas
estatais (que não são verdadeiros prestadores de serviços públicos, mas usam o
Estado para auferir vantagens indevidas) e intelectuais (que perdem a
independência crítica por se atrelarem ao Estado, usufruindo de benesses,
patrocínios e vantagens).
Analogamente ao
entulho autoritário no período ditatorial chamamos agora o entulho dos
privilégios. Assim, o entulho
autoritário impedia o florescer da democracia no país e foi necessário
remove-lo para que tivéssemos a democracia. Já o conjunto de privilégios e
favorecimentos instalado no Estado e na Sociedade é o que se chama de
"entulho de privilégios oligárquicos", pois atravancam o
desenvolvimento e o progresso do país. Ele é basicamente formado no setor
privado pelos cartéis financeiros e econômicos, contratos superfaturados,
mercados protegidos, sonegação e isenções fiscais sem contrapartida etc, e no
setor público pelas sinecuras públicas (cargo bem remunerado sem dispêndio de
esforços em sua execução), uso da troca de favores, uso político de cargos
públicos, aposentadorias precoces e/ou indevidas, ministérios e secretarias
desnecessárias, ensino superior gratuito sem contrapartida, etc. No entanto,
esta organização da sociedade e funcionamento do Estado impede a instalação
plena de uma sociedade minimamente baseada na meritocracia, bloqueando a livre
competição que é o motor do sistema capitalista, o qual reside o incipiente
desenvolvimento brasileiro.
Este "entulho de privilégios oligárquicos" é o
grande bloqueador do desenvolvimento cívico, econômico e moral do Brasil, pois,
fragiliza e enfraquece o compromisso e o sentido de dever do cidadão para com o
país, onde diuturnamente as leis são desrespeitadas e as oligarquias instaladas
desfrutam dos privilégios indevidos, fazendo com que o cidadão "desista" da sua brasilidade
e se refugie na individualidade e no ceticismo.
Como uma praga, o entulho de privilégios, consome os
recursos necessários aos investimentos, impedindo o desenvolvimento do país; e
o que é pior, dificulta a passagem dos melhores valores morais e cívicos dos
pais para os filhos, pois estes vêem que outros progridem utilizando-se de
valores que não o estudo, a honestidade e o trabalho, fazendo com que os pais
pareçam aos filhos um ingênuo, ou pior, um idiota.
Pense nisso!
Fonte: Mário de Oliveira Filho, autor do Livro “O entulho
oculto dos privilégios oligárquicos”
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