segunda-feira, 20 de abril de 2020

Como será o amanhã?


A chegada inesperada da COVID-19, que nos afetou a todos em escala mundial, encontrou um mundo já em transformação. Porém com advento dessa pandemia as transformações se aceleram como nunca, trazendo modificações importantes nas relações sociais, na política e nos políticos, no mercado de trabalho e suas relações, bem como no gerenciamento dentro dos complexos industriais torpedeados pela necessidade de um novo conjunto de regras e normas de gerenciamento e atuação atuais, que não estão nos livros, mas que precisarão ser desenvolvidas e compiladas, o quanto antes.
Assim, com as mudanças em ascensão as nações ou os empreendimentos que acertarem mais em suas decisões atuais poderão tomar a dianteira nessa retomada após a passagem do coronavirus.
Nesse sentido, as decisões dos atuais dirigentes mundiais moldarão o mundo que há de vir, onde cada decisão se tornará essencial para o futuro, superdimensionando a responsabilidade do momento, não apenas na formatação de nossos sistemas de saúde, mas também de nossa economia, de nossa política e de nossa cultura, etc.
Yuval Noah Harari, historiador e filósofo israelense, autor dos livros ‘Sapiens’ e ‘Homo Deus’ – sucesso mundial de vendas -, nos diz que o primeiro dilema, nestes momentos de pandemia, se dá entre a vigilância totalitária e o empoderamento dos cidadãos, e o segundo dilema acontece entre o isolamento nacionalista e a solidariedade global.
Harari defende que a tempestade da pandemia passará. Sobreviveremos, mas o planeta será outro, já que muitas das medidas atuais de emergência deverão ser estabelecidas como rotinas fixas, pois, essa é a natureza das emergências, acelerar os processos históricos. Assim, as decisões que em tempos normais levam anos para que sejam deliberadas, diante do inimigo invisível são tomadas em poucas horas.
As tecnologias perigosas e imaturas entram rapidamente em vigor, porque os riscos de inação são piores.
Países inteiros já funcionam como cobaias para experimentos sociais em larga escala. Vejam o que acontece quando todos trabalhamos em casa e só temos comunicação remota? O que acontece quando todas as escolas e universidades trabalham online? Essas são perguntas que a população mundial está fazendo neste momento, do médico ao trabalhador de escritório, do empresário ao professor.
Pela primeira vez na história, os governos hoje têm a capacidade de monitorar toda a sua população ao mesmo tempo e em tempo real, um dispositivo que nem a KGB soviética conseguiu em um único dia. Os governos de hoje conseguem isso com sensores onipresentes e poderosos algoritmos, como demonstrou a China, monitorando a população por meio de telefones celulares e por câmeras de reconhecimento facial.
A questão que nos alerta Harari é, se os dados de suas reações serão usados politicamente para saber como respondem as emoções do eleitorado a certos estímulos apenas, estatisticamente, ou para manipular grandes massas. Eis a questão!
Atualmente na China, vários aplicativos alertam ao portador de um celular de que ele está próximo de uma pessoa infectada, porém, a que suposto perigo poderiam nos alertar também?
Esses tipos de tecnologias não se limitam à ÁsiaHarari nos lembra que, recentemente, o primeiro-ministro israelense Benjamin Neranyahu autorizou a Agência de Segurança a usar tecnologia anteriormente restrita a combater terroristas para rastrear pacientes com coronavirus, isso foi feito através de um determinante ‘decreto de emergência’ que rejeitou as objeções da oposição no Parlamento.
Em outras palavras, a tecnologia de vigilância em massa que antes assustava muitos governos poderá ser usada regularmente, não mais como um controle ‘sobre a pele’, mas ‘sob a pele’. Os políticos terão muitas informações sobre o que nos provocam tristeza, tédio, alegria e euforia. Isso representa um poder sobre as populações sem precedentes e, portanto, arriscado.
Por outro lado, foi demonstrado que o monitoramento centralizado e a punição severa não foi a maneira mais eficaz de alcançar o cumprimento das regras que poderiam nos salvar. Porém, uma população motivada em sua própria saúde e bem informada é a única chave para esse processo.
De fato, esse é o grande ensinamento da política do uso do sabão, que não exige que um Big Brother nos assista a toda hora. Assim, o hábito do sabão precede todos os regulamentos, é um tipo de legado familiar de longo ciclo histórico.
O historiador e filósofo insiste na centralidade das histórias comuns às civilizações, como por exemplo, os costumes higiênicos. E para atingir esse nível de cumprimento e colaboração no bem comum, é necessária confiança na ciência, nas autoridades públicas e nos meios de comunicação.
Nos últimos anos, políticos irresponsáveis minaram deliberadamente a confiança na ciência, nas autoridades e nos meios de comunicação, afirma o historiador. Agora, esses mesmos políticos poderão ficar tentados a seguir o caminho mais rápido para o autoritarismo, com o argumento que não se pode confiar que o público faça a coisa certa, adverte.
Harari é a favor de se monitorar a temperatura corporal e a pressão sanguínea das pessoas, mas esses dados não devem ser usados para criar um governo todo-poderoso, devem permitir que as pessoas tomem suas decisões pessoais mais bem informadas e que, por outro lado, essas mesmas ferramentas também deveriam fazer com que os governos prestem contas de suas decisões, comenta.
Harari exorta que tenhamos um plano global na escolha entre o isolamento nacionalista e a solidariedade global. Dado que tanto a epidemia, quanto a crise econômica são globais, e apenas poderão ser resolvidas com a cooperação global.
Para derrotar a pandemia, precisamos compartilhar globalmente as informações, e essa é a grande vantagem dos seres humanos sobre os micro-organismos. A China pode ensinar muito aos Estados Unidos como combater o vírus. Enquanto o hesitante governo britânico decide entre privilegiar a economia e não a saúde pública, os coreanos têm muito a ensinar sobre a luta contra o coronavirus. Mas isso não pode ser alcançado sem o compartilhamento de informações.
Precisamos de um espírito de cooperação e confiança, alerta Harari. E também da plena disposição internacional de produzir e distribuir equipamentos médicos, como kits de teste e respiradores. Assim como os países internacionalizam suas principais indústrias durante uma guerra, o combate contra o coronavirus exige humanizar as indústrias comprometidas com o bem comum.
Nesse sentido, a humanidade está enfrentando um desafio histórico, do qual se precisa resolver o dilema da adoção do caminho da solidariedade global ou o da desunião, que apenas resulta em prolongamento da crise.