domingo, 15 de março de 2015

Momento Político Brasileiro

O país tem sido atualmente, refém da mentira e da dissimulação política. Sem qualquer escrúpulo, os cidadãos são abertamente ludibriados, fazendo da nossa frágil democracia uma luta rasteira em favor de um projeto hegemônico de poder. Não se respeita a ética; não há moral; não há lei. Nesse ambiente vergonhoso o crime passa a ser politicamente aceitável, o que transforma larápios em heróis de uma causa corrupta.
Assim, procurando uma espécie de absolvição, setores da sociedade gostam de dizer, com ares de superioridade, que os políticos não os representam, como se o Brasil não fosse uno e indivisível.
É preciso abandonar o comodismo inerte e a indiferença estanque e verificar que é preciso participar do que ocorre no país, começando pela sua cidade, pelo seu condomínio, pois, enquanto perdurar a inação dos bons, o governo dos maus será uma continuidade permanente.
Objetivamente, estamos vivendo uma espécie de “totalitarismo eleitoral”: um sistema de usurpação da soberania popular, de comercialização dos partidos políticos, de financiamento criminoso de campanhas políticas com ostensiva oficialização da mentira, onde o voto é transformado em instrumento de consagração de corruptos, corruptores e estadistas de bordel.
Temos um mecanismo de falseamento doloso da democracia, de aberta “deslegitimação” das urnas e flagrante manipulação da vontade eleitoral.
Os partidos políticos se transformaram em fúteis empresas eleitorais, e ao invés de políticos, passaram a produzir apenas rasos mercadores do poder.
O Brasil está à venda; basta conhecer as pessoas certas e pagar a comissão de intermediação. Os outrora ferozes críticos da privatização aceitam hoje qualquer negócio e nos contratos bilionários, é só cobrar por dentro e receber por fora.
A mídia, frequentemente chamada de golpista tentará estragar a festa. Porém muitas delas são dependentes dos contratos de publicidade de empresas estatais, convertendo-se em auxiliares midiáticos dos partidos sem caráter.
O burocratismo, como modelo de administração marcado por excessiva burocracia, como se viu na antiga União Soviética, tornou-se por aqui, instituição permanente.
Desta forma, o Brasil ostenta a pouco lisonjeira condição de ser o único país em que cada ente federativo tem cadastro fiscal próprio. Assim, o contribuinte se obriga à inscrição nos cadastros da União, dos Estados e dos municípios, reproduzindo basicamente as mesmas informações. O que provoca pura perda de tempo e de dinheiro.
Sem que exista justificação plausível, o brasileiro é identificado por vários números de inscrição (carteira de identidade, carteira de motorista, título eleitoral, título de reservista, CPF, SUS, PIS/Pasep, e vai por aí afora. Nesta toada, as certidões negativas têm merecido destaque. O curioso é que, com referência ao passado, as certidões têm validade para o futuro (seis meses).
Assim, a sociedade brasileira está vivendo um momento de decepção e indignação ante as denuncias envolvendo os partidos políticos, deputados federais e mesmo membros do poder executivo ante as denúncias que se sucedem como um vendaval sem fim.
A reação da sociedade é de indignação, o que por outro lado, é preciso lembrar sempre, que vivemos em sociedade e, por conseguinte, todos os nossos atos são políticos, quer por ação, quer por omissão.
Como bem salientou Bertold Brecht (1898 – 1956): o pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não houve, não fala, não participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio, depende das decisões políticas. O analfabeto político é tão ignorante que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe que de sua ignorância, nascem prostitutas, o menor abandonado, o assaltante e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, corrupto e explorador das pessoas, das empresas nacionais e mesmo das empresas multinacionais. 

terça-feira, 3 de março de 2015

A bolha do carbono

O mundo pode estar caminhando para uma grande crise econômica na medida em que os mercados de ações inflam uma bolha de investimento em combustíveis fósseis da ordem de trilhões de dólares, de acordo com pesquisas mundiais.
Segundo “Nicholas Stern”, professor da London School of Economics, o risco é grande de fato, pois a última crise financeira mostrou o que acontece quando os riscos se acumulam e se tornam despercebidos.
Assim, a chamada "bolha do carbono" é o resultado de um excesso de valorização das reservas de petróleo, carvão e gás nas mãos de empresas de combustíveis fósseis. De acordo com um relatório publicado recentemente, pelo menos dois terços dessas reservas terá que permanecer sob o solo se o mundo quiser alcançar as metas existentes, acordadas internacionalmente, para evitar o limiar de mudanças climáticas catastróficas no planeta. Se os acordos se mantiverem, essas reservas, de fato, não poderão ser queimadas e serão inúteis - levando a perdas financeiras maciças. Entretanto, os mercados de ações estão apostando na inação dos países em relação às mudanças climáticas.
O duro relatório foi realizado por “Nicholas Stern e o centro Carbon Tracker” e suas advertências são apoiadas por organizações como HSBC, Citi Bank, Standard and Poors, Agência Internacional de Energia e Banco da Inglaterra, os quais reconheceram, em que à medida que as nações combatam o aquecimento global pode haver um colapso do valor dos ativos de petróleo, gás e carvão trazendo um potencial de risco sistêmico para as economias mundiais, com o sistema financeiro de Londres, particularmente, sob risco cruzado devido às suas enormes posições em carvão.
Longe de reduzir os esforços para desenvolver combustíveis fósseis, segundo “Stern”, as 200 maiores empresas gastaram 674 bilhões de dólares em 2012 para encontrar e explorar ainda mais novos recursos fósseis, um montante equivalente a 1% do PIB global, que pode acabar como ativos “encalhados" ou sem valor.
O primeiro relatório de “Stern”, de 2006, sobre o impacto econômico das mudanças climáticas - encomendado pelo então ministro das finanças britânico, Gordon Brown - concluiu que o gasto de 1% do PIB em combustíveis fósseis pagaria os processos de transição para uma economia limpa e sustentável.
Os governos do mundo concordaram em limitar o aumento da temperatura global a 2 graus Celsius, além do qual os impactos climáticos podem se tornar graves e imprevisíveis. Mas “Stern” comenta que os investidores claramente não acreditam que ações para frear as mudanças climáticas serão tomadas. "Eles não podem acreditar nisso e ao mesmo tempo acreditar que os mercados estão, agora, valorizados demais".
Outra fonte importante da bolha de carbono é a visão centrada no curto prazo dos mercados financeiros que somente acreditam na regulação ambiental quando puderem vê-la em prática.
Analogamente analistas dizem que você deve ficar no trem até pouco antes dele cair do penhasco. Por outro lado, cada pessoa pensa que é inteligente o suficiente para escapar a tempo, mas nem todos poderão passar pela porta ao mesmo tempo. Essa é a causa de bolhas e colapsos.
Assim, a ameaça de uma perda de valor contábil do setor de carbono tem características inconfundíveis e imensuráveis.
O relatório calcula ainda, que as reservas mundiais de combustíveis fósseis equivalem a 2,86 bilhões de toneladas de dióxido de carbono, mas que apenas 31% poderiam ser queimadas para manter uma chance de 80% do aumento da temperatura terrestre não exceder 2 graus Celsius. Para essa chance ficar em 50%, apenas 38% das reservas de combustível fóssil pode ser queimadas.
Com precaução as agências de risco já expressaram suas preocupações e a “Standard and Poor” concluiu que o risco poderia levar ao rebaixamento dos “ratings de crédito” de empresas de petróleo de todo o mundo em poucos anos.

Fonte: The Guardian.