Existe
uma idéia generalizada no Brasil de que prestar concurso público seria uma
melhor opção para a solução financeira ou profissional dos indivíduos. Porém, não
é bem assim.
O
que se percebe neste contexto é uma persistência exagerada do estado em
estimular seus jovens e a elite universitária a prestar concurso público, fazendo
com que o país plante, para si mesmo, um problema que, certamente, interferirá
no futuro da nação mais adiante.
É
preciso entender que o serviço público não gera receita, é simplesmente, um custo
para o país. Isso não impossibilita que os grandes cérebros possam e devam
buscar o serviço público, pois, a nação precisa de bons cérebros.
Por
outro lado vem aumentando, cada vez mais, a percepção da importância do
empreendedorismo e a vontade dos jovens em se tornar empreendedores, enfrentando
as imensas dificuldades, fazendo com que perto de 50% dos jovens brasileiros que
se dizem interessados em empreender, não o fazem, pela adversidade burocrática
existente.
Além
das dificuldades predadoras, presenciamos um avanço muito forte do estado brasileiro
na economia e uma péssima tendência da população em acreditar que o estado deva
empreender em quase tudo, o que se torna um desastre ao país. Enquanto nos
países importantes e de economia avançada, do mundo todo, já se abandonou esse
dilema entre quem vai empreender, se é a sociedade civil ou o estado? Nós aqui
ainda estamos gastando energia preciosa a esse embate. Na realidade, o estado
nunca teve condições de empreender; ele é mau empreendedor, mau administrador, e
infelizmente, corrompe.
Dessa
forma, ainda não nos libertamos dessa concepção envelhecida e não deixamos a
sociedade civil agir como ela deva agir, pois, é a sociedade civil a única que
sabe empreender e a única que possui recursos financeiros para isso, e a falta
desse entendimento prévio do cidadão tem trazido um problema adicional ao país.
Cabe
então o questionamento: por que empreendemos tão pouco no Brasil?
A
realidade nos mostra que não temos prática em empreender. A história econômica
do Brasil nos diz que quando houve a revolução industrial, era proibido abrir
indústria por aqui. O comércio era exclusividade daqueles nascidos em Portugal.
No século 19 o próspero empreendedor Barão de Mauá foi detonado pelo estado de
então e no século passado não houve estimulo concreto à inovação no Brasil.
O
Brasil sempre importou tecnologia. As empresas nacionais e as multinacionais, sempre
tiveram como fonte de tecnologia um braço que vem de fora. Assim, ou as
empresas nacionais compravam tecnologia ou as empresas multinacionais
estrangeiras traziam essa tecnologia para cá. Com isso, a universidade ficou
distante da atividade empreendedora.
Nós
temos essa raiz de distanciamento do empreendedorismo. Nosso marco regulatório é
construído tendo em vista as grandes empresas, com participação exagerada do governo. O país não tem um acolhimento decente e
saudável a quem deseja empreender. O Brasil é um dos piores lugares do mundo
para quem deseja empreender segundo pesquisa do Banco Mundial (Doing Business/2014)
que coloca o Brasil em posição desconfortável, (116 entre 189 países).
É
preciso entender que quem gera riqueza é o empreendedor e que o empreendedorismo
é a única forma de construir justiça social; a única forma de se passar de uma
economia de dependência para uma economia sustentável e a única forma de fazer
o PIB crescer com geração de empresas, renda e empregos.
De
outro modo, é preciso dar mais atenção às pequenas e médias empresas, pois são
elas que inovam e possuem uma taxa de geração de emprego positiva, enquanto as
grandes empresas, por sua lógica, tendem a ter uma taxa de geração de emprego
negativa. Elas demitem. Essa é a tendência. A margem de lucro das
mega-empresas, de grande escala é reduzida. A competição é muito elevada, elas
ganham com apoio de processos de automatização e de eliminação de mão de obra.
Já
a pequena empresa é essencial, gera emprego, gera inovação, gera um movimento
de destruição criadora que, ao inovar, faz com que a economia se dinamize
eliminando as empresas obsoletas do mercado.
Um
ambiente economicamente saudável não pode prescindir das pequenas e médias
empresas. Ou seja, não se faz um grande país apoiado apenas nos grandes empreendimentos.
As
alternativas existem e esse atraso do empreendedorismo nacional pode ser
contornado e resolvido com soluções brasileiras.
O
professor Fernando Dolabela, coordenador da Oficina do Empreendedor e especialista
do Instituto Millenium, desenvolveu na Universidade Federal de Minas Gerais um
projeto denominado “Oficina do Empreendedor” acoplado ao CNPQ, o qual possui ótima
metodologia e, que por sua natureza, vem mudando o perfil de nascimento do
empreendedorismo em diversas universidades brasileiras.
O
professor tem desenvolvido seminários para professores de filosofia,
odontologia, de música, de balé, de engenharia, os quais foram preparados para
trabalhar com seus alunos no sentido de mudar o paradigma brasileiro, seguindo
a tese: “Pare de ser empregado; existem outras opções; há outra coisa a fazer no
mundo. Abra a sua empresa”.
Atualmente,
o trabalho do professor é desenvolvido com crianças, a partir de quatro anos na
educação básica, pois o jovem que entra na universidade com 17 ou 18 anos de
idade, já está culturalmente completo. Ou seja, coletar cerca de 5% dos alunos
que desejam empreender é muito pouco e não muda o Brasil.
É
preciso trabalhar a educação agricultora, a educação que trabalha na base, que
é a grande transformadora do país. Trabalhando as crianças que estão nas
escolas públicas teremos condições de dar um novo vetor cultural para elas, desenvolvendo
a sua auto-estima para que ela se sinta protagonista do processo através de duas
perguntas importantes: qual é o seu sonho? E o que você vai fazer para
transformar o seu sonho em realidade?
Tudo
isso para desmistificar o diagnóstico escolar que traz um comportamento
desalentador ao aplacar e inibir a criatividade, inibir a ousadia, inibir a
rebeldia que é, em síntese, o motor do empreendedor. O empreendedor é alguém
absolutamente rebelde que contesta os padrões existentes. E o único modo de se
romper com os padrões vigentes é através da inovação.
Assim,
empreender não é somente abrir empresas. E preparar os alunos ao
empreendedorismo, não é apenas uma questão de QI ou de inteligência, mas sim,
de uma questão de cultura como acontece nos países desenvolvidos onde,
principalmente, Estados Unidos e Europa ensinam o empreendedorismo nas escolas,
diferentemente do Brasil.
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