O leilão do Campo de Libra, na Bacia de Campos, que
ocorreu na última segunda-feira (21), foi a primeira rodada realizada para
conceder, sob o regime de partilha de produção, áreas para exploração de
petróleo e gás natural na região brasileira do Pré-Sal.
Estima-se que o óleo recuperável na área leiloada,
de acordo com dados do governo, varie de 8 a 12 bilhões de barris com a
necessidade de implantação de 12 a 18 plataformas para extração do óleo, sendo
que o pico de produção estimado no campo de Libra é de 1 milhão de barris por
dia.
O investimento para isso chegará a US$ 181 bilhões,
em 35 anos. A Petrobrás operará o Pré-Sal, com um mínimo de 30% de participação
juntamente com o consórcio vencedor, o que é realmente muito pouco para uma
empresa do porte da Petrobrás. Caso a empresa não estivesse super endividada e
com dificuldades financeiras, ela que foi símbolo brasileiro de sucesso e se
tornou vulnerável financeiramente, poderia participar mais robustamente da
operação.
Atualmente a Petrobrás é uma empresa de capital
misto que detém 51% do capital votante e terá, paradoxalmente, uma participação
ínfima de apenas 30% do maior campo petrolífero brasileiro que é o campo de
Libra, entregando 70% das riquezas de nossos mares a nossos concorrentes diretos
na geopolítica internacional como China e Coréia do Sul.
Para que você tenha uma idéia a produção nacional da
Petrobrás chega hoje a aproximadamente 2 milhões de barris por dia e somente o
campo de Libra produziria metade de nossa produção atual. Portanto, não faz
sentido fatiar as nossas riquezas vendendo a concorrentes diretos uma riqueza
que é nossa e que pode sim ser extraída exclusivamente pela Petrobrás dentro de
um cronograma adequado de extração.
O contrato de partilha
será válido por 35 anos, quatro desses voltados à exploração dos recursos e os
demais ao desenvolvimento e produção. As empresas vencedoras serão livres para
explorar o petróleo pertencente a sua cota, bem como para garantir ao óleo o
destino que desejarem.
Na
maior oferta pública de ações do mundo, a Petrobrás arrecadou em 2010 perto de US$
60 bilhões e subiu no ranking das empresas de petróleo. Mas, onde foram parar
estes recursos? Para agora fazer o sistema de partilha com a intenção
simplesmente de arrecadar recursos, não para a Petrobrás e para o povo
brasileiro, mas sim para financiar os déficits constantes do Balanço de
Pagamentos, fruto dá má gestão do país e da economia. Ou seja, a intenção
governamental é a de produzir petróleo, à toque de caixa, para sanar as contas
públicas em dificuldades, disfarçadas nas intenções de envio de recursos à
educação e a saúde.
Assim
cabe o questionamento: para onde vão os trilhões de reais arrecadados anualmente
dos trabalhadores e dos brasileiros que pagam impostos estratosféricos ano após
ano com retorno em serviços governamentais quase nenhum? Onde está este ralo
sem fundos que consome desastrosamente as riquezas geradas pelos brasileiros?
Difícil
acreditar em um governo que sempre tem segundas intenções em suas atuações, não
acha?
O leilão do campo de
Libra — se as estimativas oficiais estiverem corretas é a
maior reserva de petróleo já descoberta no Brasil, segundo a Agência Nacional
de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP).
Podemos dizer que existe
uma diferença básica entre o regime de concessões e o regime de produção partilhada.
No primeiro, as petrolíferas são donas do petróleo produzido, remunerando o
Estado por meio de royalties e de um bônus de assinatura (pagamento feito ao
assinar o contrato). Já no segundo, além de o Estado receber os royalties e
bônus de assinatura, também é dono da produção, porém de apenas 30% da
produção. Não seria mais vantajosa a opção de a própria Petrobrás tocar todo o
projeto com 100% do petróleo à nossa disposição, mesmo que o fizéssemos a
passos mais lentos, saneando a Petrobrás primeiramente? Não parece mais um
toque eleitoreiro para ludibriar o povo brasileiro novamente?
Assim, a
Petrobrás, ficará com 30% do óleo e os outros 70% restantes serão disputados
por 11 empresas: além da própria Petrobrás (que pode aumentar sua
participação), as chinesas CNOOC e CNPC, a colombiana Ecopetrol, a japonesa
Mitsui, a indiana ONGC Videsh, a portuguesa Petrogal, a malaia Petronas, a
hispano-chinesa Repsol/Sinopec (que saiu do leilão), a anglo-holandesa Shell e a
francesa Total.
Segundo
especialistas, esses recursos petrolíferos poderiam muito bem ser explorados
pela Petrobras em um horizonte de médio prazo. A empresa tem tecnologia
suficiente para isso e só precisa de financiamento - o que pode ser conseguido
com os bancos acredita Sauer, ex-diretor da Petrobrás e professor da USP.
Além
disso, não podemos ignorar que, do ponto de vista geopolítico/estratégico,
nossos interesses são distintos dos chineses, por exemplo: eles podem querer
aumentar a produção global de petróleo para diminuir o preço do barril,
enquanto nós poderíamos lucrar com uma política de controle da produção para
manutenção dos preços em um patamar mais elevado.
Como
está o processo, o país poderá perder R$ 300 bi com o leilão de Libra, diz
ex-diretor da Petrobrás, considerando o valor da diferença do retorno
financeiro caso a Petrobrás participasse com 30% ou com participação total de
100% do campo de Libra, considerando o preço do barril acima de US$ 160 ou apenas
a US$ 60.
Uma
das principais críticas de Sauer é que a produção será feita de uma só vez, sem
respeitar o ritmo necessário para a utilização do petróleo pelo país.
O
Professor lembra ainda que caso arranquemos todo esse petróleo do mar e o convertemos
em dinheiro, não deixando nada para as próximas gerações estaríamos causando
uma ignomínia (desaforo) às gerações futuras.
Portanto, é questionável produzir todo o petróleo agora
e convertê-lo em moeda, em qual moeda, pergunta-se? Provavelmente o petróleo
mantido lá no fundo do mar se valorizará mais do que qualquer outro
investimento, defendeu o professor.
É preocupante também para Sauer, o fato de a Petrobrás
entregar todo o desenvolvimento tecnológico da empresa nesta operação,
considerando ainda, a existência de interesses eleitorais no leilão já que o
mesmo foi realizado, num momento em que a Petrobrás se encontra “quebrada”.
Para
o Professor Sauer, a Petrobrás teria condições de produzir o petróleo, já que
isso será feito com recursos do sistema financeiro, pois, todas as empresas
participantes do leilão terão que fazer o mesmo, ou seja, levantar recursos
para investir no leilão.
Lembremos que o atual modelo promoverá
a “privatização” de uma das maiores riquezas do país, assinados pelo Partido
dos Trabalhadores que ironicamente foi sempre contra as privatizações passadas,
principalmente a da Petrobrás.