Certamente o leitor já deve ter ouvido alguém falar sobre Custo Brasil - aquele que encarece o produto brasileiro por meio, não somente da falta, como também da inadequação da infra-estrutura e logística para que os produtos produzidos no país circulem normalmente pelos estados e municípios, chegando até aos compradores locais ou até mesmo aos portos brasileiros e daí direcionados a outros países.
Pois bem: este nome bonito sintetiza na linguagem dos economistas o que seja a penúria das estradas brasileiras, a precariedade de nossos portos e aeroportos, assim como toda a inadequação de nossa estrutura viária para atender um país continental como o Brasil que deveria transportar seus produtos até os consumidores finais através de meios mais baratos como os trens, o transporte de cabotagem (via mares e rios), dentre outros.
Porém, estudos revelam que existe, no caso dos automóveis, o então chamado Lucro Brasil.
O Lucro Brasil, é aquele que registra lucros exorbitantes no segmento automotivo, onde o mesmo carro fabricado aqui no Brasil e vendido internamente é, em certos casos, de até doze vezes mais caros que os vendidos em outros países, como Argentina, México, Estados Unidos, e outros países.
Consultores registram vários motivos para tal discrepância de preços. O Custo Brasil, que não explica tudo, a carga tributária brasileira, a mais cara do mundo e a falta de competitividade no segmento automotivo.
Na formação do preço: ao lançar um carro, o fabricante verifica a concorrência. Caso não tenha referência no mercado, posiciona o preço num patamar superior. Se colar, colou. Caso contrário passa a dar bônus para a concessionária até re-posicionar o produto num preço que o consumidor está disposto a pagar. É o que dita a estratégia de Marketing e na realidade, vale para qualquer produto, de qualquer setor.
As fábricas automotivas, de um modo geral, reduzem os custos com o aumento da produção, espremem os fornecedores, que reclamam das margens limitadas e o governo reduz impostos como fez durante a crise, as vendas explodem e o Brasil se torna o quarto maior mercado consumidor e o sexto maior produtor. E o Lucro Brasil permanece inalterado, obrigando o consumidor a comprar o carro mais caro do mundo.
O Lucro Brasil não fica somente na montadora, mas em toda a cadeia produtiva. Estudos feitos pela ACARA, (Associacion de Concessionários de Automotores De La Republica Argentina), divulgou no congresso dos distribuidores dos Estados Unidos, em São Francisco, em fevereiro deste ano, os valores comercializados do Corolla em três países: no Brasil o carro custa US$ 37.636,00, na Argentina US$ 21.658,00 e nos EUA US$ 15.450,00. Outro exemplo de causar inquietude: o Jetta é vendido no México por R$ 32,5 mil e no Brasil por R$ 65,7 mil.
O Gol I-Motion com airbags e ABS fabricado no Brasil é vendido no Chile por R$ 29 mil, fica por não menos de R$ 46 mil por aqui.
O Corolla não é exceção. O Kia Soul, fabricado na Coréia, custa US$ 18 mil no Paraguai e US$ 33 mil no Brasil. Não há imposto que justifique tamanha diferença de preço.
Especialistas comentam que no segmento B do mercado, onde estão os carros de entrada, Corsa, Palio, Fiesta, Gol, a margem de lucro não é tão grande, porque as fábricas ganham no volume de vendas e na lealdade do consumidor à marca. Mas nos segmentos superiores o lucro é bem maior.
O que faz uma fábrica ter um lucro maior no Brasil do que no México, segundo consultores, é o fato de o México ter um mercado mais competitivo.
E por que o consumidor brasileiro paga mais pelo carro que em outros países?
A realidade é que o Brasil tem um custo de vida muito elevado. Comparativamente, os sanduíches do McDonalds aqui são os mais caros do mundo. O sanduíche custa US$ 3,60 lá e R$ 14,00 aqui.
Outro comparativo é a China onde o governo chinês não dá subsídio à indústria automobilística e os salários dos engenheiros e dos operários chineses não são menores do que os dos brasileiros.
Há algo errado no Brasil, não somente o preço do carro é mais elevado. Um galpão na China custa R$ 400,00 o metro quadrado, no Brasil o metro quadrado custa R$ 1,2 mil. O frete de Xangai a Pequim custa US$ 160,00 e de São Paulo a Salvador R$ 1,8 mil.
As montadoras têm uma margem de lucro muito maior no Brasil do que em outros países. Uma pesquisa feita pelo banco de investimento Morgan Stanley, da Inglaterra, mostrou que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial das suas matrizes e que grande parte desse lucro vem da venda dos carros com aparência “fora de estrada”. São os derivados de carros de passeio comuns, esses carros ganham uma maquiagem e um estilo aventureiro. Alguns têm suspensão elevada, pneus de uso misto, estribos laterais. Outros têm faróis de milha e, alguns, o estepe na traseira, o que confere uma aparência mais esportiva, onde o vendedor puxa exageradamente no preço.
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