As controvérsias
societárias, embora não pareçam, são bastante comuns tanto nas companhias de
capital aberto quanto naquelas de capital fechado como as microempresas. E como
não poderia deixar de ser em momentos de recessão econômica quando uma empresa necessita
tomar medidas mais drásticas é que os ânimos se acirram ainda mais.
O caso mais
emblemático que tomou conta do noticiário brasileiro e que, portanto, é de
conhecimento de todos são os atritos entre o comando da Usiminas onde os
acionistas controladores da siderúrgica, a japonesa Nippon Steel e o grupo
ítalo-argentino Ternium/Techint, protagonizam a maior disputa societária em
curso no Brasil. Em meio ao definhamento financeiro da companhia, que fez uma
renegociação de suas dívidas e colocou ativos à venda para ajudar a contornar a
indesejável situação financeira, os sócios trocam acusações tanto na Justiça
quanto em público através das mídias.
No laboratório
mineiro Hermes Pardini que tem a Gávea Investimentos como acionista, uma briga
entre três irmãos simplesmente travou as negociações de fusão com a paulista
Fleury, afirmam especialistas.
Já no caso da
telefonia Oi, em recuperação judicial desde junho do ano passado, a briga acontece
entre acionistas brasileiros como a La Fonte, do grupo Jereissati e a Andrade
Gutierrez com os sócios da Portugal Telecom que trocou de nome e atualmente se
chama “Pharol”, a qual é a maior sócia individual da operadora, com 27,5% das
ações do grupo, que por sua vez, é alvo de ataque de um investidor conhecido
por apostar em empresas em dificuldades, um empresário da “Société Mondiale”,
dona de 6,6% da Oi.
Por outro lado, desde que investidores estrangeiros passaram a buscar
ativos no Brasil em cenário de crise, os possíveis atritos entre os sócios
passaram a entrar na conta antes de se fechar os negócios, ao lado de fatores
como risco cambial e insegurança jurídica.
Estatisticamente falando, desde 2015, os litígios com empresas
brasileiras subiram muito, acompanhados do excessivo volume de reestruturações
de dívidas e de revisões de contratos como um todo.
Assim, as rixas mais conhecidas são de companhias de capital aberto,
seguidas de vários desentendimentos em andamento em processos sigilosos nas empresas
de capital fechado, uma vez que tramitam em câmaras de arbitragem, ou mesmo em
segredo de Justiça.
Desse modo, num cenário de crise e com o amadurecimento do mercado de
capitais abriu-se espaço para mais questionamentos. Some-se a isso, a entrada
de novos investidores na Bolsa de Valores brasileira, o que provocou mudanças na
relação entre controladores e acionistas, os quais, mais cientes de seus
direitos, passaram a ter uma atuação mais ativa neste mercado.
Outro ponto a ser
salientado, e que se tornou um fenômeno recente no país, é a entrada de fundos
especializados em empresas problemáticas, os chamados “distressed funds”
(fundos em dificuldades), que contribuiu sistematicamente para o aumento do
número de contenciosos por aqui.
Porém, é interessante notar que independentemente de quem esteja ou não com
a razão, o fato é que desavenças societárias são capazes de destruir o valor de
uma empresa. No caso da Usiminas, por exemplo, o valor de mercado da
siderúrgica despencou 68% em 2015, auge da briga dos controladores, o que
certamente agravou o quadro da companhia para além da crise do aço.
Então como
resolver essas disputas?
Em momentos
assim, é
comum a busca pela ampliação da consciência societária e de seus sócios como um
todo, sejam nas empresas de capital aberto ou fechado, no sentido de recuperar
a percepção dos investimentos, focando na geração de resultados e na busca de
uma melhor redefinição dos papéis dos sócios na organização.
Especialistas consideram que, não
necessariamente, se precise de relações de amizade para haver relações de
negócios e que nem mesmo é preciso haver cordialidade, basta igualmente, o foco
dos agentes mandantes nos reais interesses empresariais da sociedade. Portanto,
é preciso focar na visão de que a empresa é somente um organismo que capta recursos e aplica esses recursos para gerar resultados de
qualidade, os quais levam ao retorno dos investimentos aos sócios, reconhecendo claramente, que os riscos são sempre relacionados às decisões de caráter financeiro,
nada mais.
Sócios
problemáticos devem esforçar-se na recuperação do propósito de geração de
resultados do empreendimento e buscar uma articulação adequada que permita a definição
de quais sócios trarão melhores contribuições para a geração de resultados. Assim,
a qualidade dos sócios está no aprimoramento dos resultados e,
especificamente, no retorno dos investimentos.
Desse
modo, as brigas entre sócios não significa o fim dos empreendimentos. As
soluções existem através de uma séria e adequada reformulação dos papéis
societários, com novas visões de responsabilidades, juntamente, com novos instrumentos
de gerenciamento do investimento com o simples propósito de gerar credibilidade
ao empreendimento.
Caso
nada disto melhore os resultados, que se estabeleça um plano de saída desse ou
daquele sócio que de alguma forma não se identifica mais com a organização.
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