O desprezo com a
segurança pública no Brasil nos últimos quinze anos, deságua agora em seu mais
alto grau de descontrole, ou melhor, deságua na necessidade de desativação
desta bomba relógio que são os presídios do país onde as facções criminosas são
o comando, e não o estado brasileiro.
Pouco importa se
as responsabilidades recaem, de acordo com a Constituição do país, apenas aos
estados da federação. É preciso que a União também entre no processo para
sairmos da submissão ao crime organizado, assim como estamos tentando nos
livrar da submissão às empreiteiras, através da operação lava-jato.
Estarrecida, a população assiste detentos esquartejados e decapitados entre
si em brigas entre facções no presídio Anísio Jobim de Manaus e de Alcaçuz no
Rio Grande do Norte.
Assim, nomes das facções invadem as manchetes dos jornais e a
sociedade conhece a nova face da marginalidade do PCC, da Família do Norte e do
Sindicato do Crime, coroando assim os desmandos nas cadeias brasileiras onde
se instalaram os quarteis generais dos marginais.
Somente nos primeiros 16 dias do ano foram
134 mortos nos presídios brasileiros. Algo impensável em qualquer país sério do
mundo. E os dados desse imbróglio são tristes e preocupantes.
O Brasil abriga mais de 600 mil presos em
cadeias onde caberiam apenas 300 mil deles. Existem mais de 400 mil mandados de
prisão sem execução pela morosidade do judiciário e pela falta de vagas nos
presídios. Isso eleva o déficit prisional a 700 mil vagas. Desta maneira, o
país precisaria construir 1.400 presídios, ao custo de 30 milhões cada um,
equivalendo, portanto a R$ 42 bilhões.
Especialistas apontam que as cadeias
deveriam abrigar no máximo 500 presos para que sejam administráveis.
Ainda que, se libertasse todos os presos
provisórios estimados em 250 mil a situação continuaria alarmante e sem uma
resposta rápida e eficaz a qual a sociedade atualmente exige. Porém, os presos
provisórios não podem ser todos soltos. Eles precisam ser julgados primeiro, o
que levaria algum tempo para se efetivar.
Para iniciarmos a resolução do problema
precisaríamos de desprendimento dos governantes para relatar à sociedade as
verdades sobre o sistema de segurança pública do país, além de equilíbrio e
sensatez suficientes para encarar o problema de frente, de uma vez por todas, entendendo
que para problemas difíceis requerem respostas e soluções elaboradas e que
todas elas têm um custo para a sociedade. O que não pode, é empurrar a questão com
a barriga como tantas vezes, no passado recente.
A situação é séria e não dá para ficar, erroneamente,
resmungando nas redes sociais que “os presos que se danem!”. A coisa não é bem
assim! Numa sociedade civilizada sabe-se que o estado é responsável pela
integridade tanto dos que estão detidos quanto dos que não estão. Portanto as
barbáries não podem continuar, jamais.
O que se verifica, portanto, é que uma
parcela menos civilizada da sociedade não se dá conta de que estamos assistindo
facções do crime organizado encontrando nos presídios seu habitat natural para a
criminalidade e que essa disputa não se restringe aos ambientes fechados das
cadeias, ela se estende para fora delas numa competição pelo mercado do crime,
ameaçando assim toda a sociedade.
Diante dessas circunstancias a sociedade
brasileira deve se conscientizar da gravidade do problema e iniciar uma
resposta adequada e estrutural de segurança nacional, que chamasse à
responsabilidade, não somente os três poderes da república, mas também cada um
dos brasileiros para a solução definitiva do problema, ou assistiremos a
naturalização da barbárie, o que seria lamentável e distante dos direitos
fundamentais da vida humana, sejam de criminosos ou não.
É preciso a compreensão por parte dos
políticos que a sociedade brasileira vem cobrando de há muito, mesmo que silenciosamente
uma resposta do governo federal para a questão da violência no país.
Por
outro lado, se
a união abraça essa questão de onde retirará recursos suficientes para investimento
na segurança pública de forma contínua pelos próximos 20 anos? Infelizmente,
esse dinheiro hoje não existe nos cofres públicos e muito menos nos cofres dos estados
federados que, simplesmente, estão quebrados. Lembremos que o crime assumiu tal
proporção e organização no país que a questão deixou de ser um problema de
segurança pública para se tornar um problema de segurança nacional, o que nos
envolve a todos.
Especialistas apontam para a criação de uma
Autoridade Federal, não um ministério nos moldes tradicionais, ou seja, um comando
devidamente sancionado pelo Congresso Nacional, com mandato previsto e com um
sistema de “accountability” para que haja transparência absoluta no
acompanhamento das metas previstas e obtidas, com um prazo para zerar o déficit
de vagas dos presídios, o que certamente incluirá medidas pontuais como
mutirões judiciais, dentre outras, para se romper com a inercia dos entes
estatais da federação brasileira.
Cabe lembrar ainda, que a guerra em curso
entre o PCC e o Comando Vermelho vai muito além de uma rixa entre grupos
organizados. O que essas facções disputam hoje é a verticalização do crime,
pois cada uma delas domina áreas de distribuição e venda de drogas, agora estão
disputando o controle da produção em países como a Bolívia e o Paraguai, daí a preocupação
com o agora.
Segundo o noticiário, vão sobrando
evidencias de que os criminosos já compraram influencia em setores do
judiciário, do legislativo e do executivo por intermédio das prefeituras, o que
põe em risco o nosso regime democrático. Desse modo, pode-se dizer que a
Guatemala hoje é, formalmente, uma democracia, porém, na prática ela é uma “ditadura
de gangsters do crime organizado”, assim como parte do México que também se
tornou uma “ditadura de gangsters do crime organizado” e o Brasil, não fica de
fora, basta verificar o que acontece nos morros do Rio de Janeiro e das grandes
cidades brasileiras.