quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Esquisitices brasileiras

Lidamos com a política o tempo todo, todos os dias, embora não pareça. Nos jornais, na internet, nas discussões de trabalho, nos descasos dos serviços públicos e essencialmente na hora de pagar os impostos.
Mesmo que não gostemos, não entendamos, que não tenhamos o devido interesse, que não compartilhemos qualquer conteúdo ligado a ela, não temos como escapar de suas garras.
Num país como o nosso, tão calejado pela idéia da qual a política é um ente de transformação saudável para a sociedade, não raramente nos decepcionamos, nos indignamos e nos sentimos agredidos com o descaso e o despreparo dos homens públicos, especialmente quando esperamos que a resposta para nossos problemas mais imediatos, enquanto sociedade esteja nos partidos políticos, nos políticos, nos regulamentos da organização política e no governo.
Assim, passa ano, entra ano, nos deparamos com obras que nunca chegam, nunca terminam, outras nem começam, melhorias que não acontecem, pouco avançam, a educação que não progride, a saúde que é um caos, a segurança que é insegura. Porém, a realidade é dura no dinheiro que muito some na lama da corrupção deslavada.
Daí as esquisitices brasileiríssimas.
Parece inacreditável imaginar, mas Paulo Maluf, político paulista, um dos mais corruptos do país já recebeu da população paulista e brasileira quase 50 milhões de votos em sua carreira política.
Segundo dados divulgados pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), nossos políticos desviam por ano mais de R$ 200 bilhões. Caso você não tenha noção de quanto vale tudo isso? A gente ajuda, o dinheiro seria suficiente para comprar 600 milhões de cestas básicas ou construir mais de 14 milhões de salas de aula.
E o roubo não para. Enquanto você lê esse texto, mais de R$ 380 mil foram desviados, e não adianta tentar proteger a carteira.
Segundo especialistas, na vida somente há 2 certezas: morrer e pagar impostos. E por aqui, isso faz mais sentido do que em qualquer outro lugar do planeta. Apenas nos últimos 5 anos, os brasileiros já recolheram aos cofres públicos quase R$ 8 trilhões em impostos. Relembrando: R$ 1,27 trilhão em 2010, R$ 1,5 trilhão em 2011, R$ 1,56 trilhão em 2012, R$ 1,7 trilhão em 2013 e R$ 1,8 trilhão em 2014. É trilhão que não acaba mais. E o que é pior, sai tudo, tudinho, do nosso bolso.
Um estudo realizado pela ONU em 2013 revelou que, considerando-se a paridade de poder de compra, o custo de cada congressista brasileiro é o segundo mais caro do mundo. Nós perdemos apenas para os Estados Unidos. Mas não se sinta triste com a derrota – ainda estamos na frente de 108 países no ranking.
Segundo os autores da pesquisa, desenvolvida em parceria com a União Interparlamentar dos Estados Unidos, o brasileiro carrega um fardo equivalente a US$ 7,4 milhões todos os anos para cada um dos 594 parlamentares em exercício. Já nos Estados Unidos, país com um uma renda per capita 3,7 vezes maior que a brasileira, cada assento do congresso custa 9,6 milhões de dólares por ano.
Nossos 4 ex-presidentes (Sarney, Collor, FHC e Lula) custam R$ 3 milhões por ano aos brasileiros. É, isso mesmo que você leu. Nossos ex-presidentes ainda nos geram gastos. Cada um deles tem direito a 8 assessores, 2 veículos oficiais, seguranças, combustível e outros pagamentos, totalizando gastos estimados entre R$ 500 mil e 760 mil. No total, os quatro ex-presidentes vivos, incluindo o ex-presidente Collor, que renunciou ao cargo sob ameaça de impeachment, somam gastos da ordem dos R$ 3 milhões todos os anos. E essa grana, mais uma vez, sai do nosso bolso.
Os brasileiros cada vez menos elegem candidatos e cada vez mais coroa dinastias. Segundo um levantamento divulgado pela organização Transparência Brasil, 49% dos deputados e 60% dos senadores eleitos, em 2014, têm parentes na política. Ou seja, 6 em cada 10 senadores integram de alguma maneira um clã político. O estudo mostra também que entre os novos deputados federais com menos de 35 anos, 85% deles pertencem a famílias que já têm atuação política. Assim, aqui no Brasil, política, definitivamente, virou negócio de pai pra filho. Como a máfia.
Nas últimas eleições municipais, de 2012, um juiz auxiliar do Tribunal Superior Eleitoral, Paulo de Tarso Tamburini, fez as contas de quanto se gasta com a propaganda eleitoral impressa no Brasil e chegou a uma conclusão acachapante: se fosse possível gastar todo esse dinheiro investido pelos partidos em livros impressos, seria possível produzir mais de 20 milhões de livros ou mais de 20 bilhões de folhas de papel tamanho A4, o equivalente a 417 mil árvores cortadas.
Nas eleições de 2014, só no Rio de Janeiro, a política gerou mais de 350 toneladas de lixo eleitoral.
Assim, cabe concluir que a capacidade para a produção de lixo na política brasileira é realmente inesgotável.

Um comentário:

  1. Simplesmente fantástico o teu texto, Sérgio! Em especial destaco o último parágrafo, onde o fechaste com chave de ouro. Perfeito! Vestiu como uma luva!
    João Alves

    ResponderExcluir