Com a construção
das novas Arenas Esportivas estamos assistindo a um processo de mudança de
paradigma dos estádios de futebol aqui no Brasil. Saímos das praças de
desportos e das praças públicas para as Arenas Multiuso que estão definidamente
acopladas ao projeto de elitização dos estádios e do futebol brasileiro e que,
naturalmente, vem ancorada à elevação do preço dos ingressos, o que, lamentavelmente,
alterará o perfil social do torcedor tupiniquim nos estádios.
O caso da Arena
Corinthians é bem típico. O clube traz em si o DNA da simbologia popular,
porém, tem um estádio erguido num bairro periférico distante 23 km do centro da
cidade de São Paulo, cuja massa de torcedores é extremamente ativa, o que
invariavelmente se confronta com esse projeto atual de elitização dos estádios
contrapondo assim, com a demanda popular dos torcedores. Ou seja, o clube
desportivo tem um novo estádio onde a sua torcida de massa, característica do
clube, não poderá assistir aos jogos do seu timão. Estranho não?
Embora pouco
comentada, essa é uma das grandes preocupações postas em função desses novos
estádios, até porque a experiência de outros países já demonstrou isso muito
claramente, e que de certa forma, isto já vem ocorrendo com a torcida do
Flamengo no Maracanã.
Estranho também a
colocação da palavra arena que poderemos considerá-la a uma propriedade
lingüística pelo simples fato de que arena é um lugar que tem areia e não um
lugar, propriamente, que tenha gramado.
Na realidade há
uma grande preocupação nos meios esportivos onde os torcedores dos grandes
clubes brasileiros possam se transformar em torcidas de mauricinhos que vão
cantar “eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor” que é uma canção
de ninar, não propriamente uma canção para um estádio de futebol. Assim, muitos
conhecedores do futebol dizem que quando a torcida brasileira começa a cantar
isto nos estádios eles começam a ficar preocupados com que a seleção possa dormir
em campo, ao contrário de “o campeão voltou” que é um pouco melhor, claro!
Em relação à elitização
do futebol. Será que não teremos mais um bando de loucos corinthianos nos
estádios? Não teremos mais a torcida do flamengo cantando “ó meu mengão eu gosto
de você”? Será que não teremos mais a torcida do Galo cantando “a galoucura
canta, a massa se levanta e só dá Galo”? E a torcida celeste com a Máfia Azul
cantando “explode coração, na maior felicidade, é lindo o meu Cruzeiro,
contagiando e sacudindo esta cidade”?
Bem, na lógica do
mercado, podemos dizer que na Inglaterra isto deu muito certo porque os
estádios estão repletos de torcedores e de certa forma contribuiu para minimizar
a questão da violência da torcida inglesa nos estádios.
No Brasil, há
algumas contradições como, por exemplo, a gente gosta de dizer que somos o país
do futebol, mas é uma mentira que a gente conta pra nós mesmos porque a gente
gosta e joga bem o futebol. Ou seja, nós somos bons nesse negócio de jogar
futebol.
Mas, o país do
futebol certamente nós não somos! A nossa média de público de 15 mil pagantes
por jogo é menor que a Liga Americana de Futebol. Perdemos para a segunda
divisão da Liga Inglesa e perdemos também para a segunda divisão da Liga Alemã
de futebol. A nossa média de público nos estádios fica na 17ª posição em
pesquisa mundial sobre comparecimento de torcedores aos estádios.
Interessante que
qualquer pesquisa de opinião que se faça no Brasil sobre interesse por futebol,
em primeiro lugar vem um contingente de 28% de pessoas que não se interessam
por futebol, em segundo lugar vem o Flamengo e em terceiro vem o Corinthians.
Na Argentina, ao contrário, a mesma pesquisa conta que em primeiro lugar vem o
time “Boca Junior”, em segundo o “River Plate” e em terceiro, as pessoas que não
se interessam por futebol.
Na realidade nós
não podemos pensar em elitização dos nossos estádios, antes, de que haja plena capacidade
de público neles. Assim, com a possível falta de público nos estádios
brasileiros teremos que abrir as portas aos “geraldinos e arquibaldos” do dia a
dia, abrindo assim, os estádios aos pobres e aos pretos, porque desistir de ver
preto nos estádios não tem graça nenhuma, assim como os elevados preços dos
ingressos e os desnecessários horários dos jogos, atendendo assim a grande
massa de torcedores apaixonados por futebol.
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