segunda-feira, 24 de junho de 2013

Pânico em Ipatinga?

Recentemente a revista Exame publicou uma matéria com o título “Pânico em Ipatinga”, a matéria foi interessante, mas merece alguns reparos.
Eu não diria que a cidade está em pânico, nem que as coisas estão difíceis especificamente por causa das dificuldades que o setor do aço passa no Brasil e em boa parte do mundo por um momento de retração do consumo de aço por motivos diversos.
A queda do IPTU da cidade pode ter, dentre outras causas, o reflexo da paralisia do mercado imobiliário na cidade, fruto de um Plano Diretor mal concebido e mal divulgado para a população. O IPTU somente cai se o ente público decretar queda da alíquota do imposto, se toda a população, por exemplo, se mudar da cidade ou se um ente importante que paga muito esse imposto deixar de paga-lo por algum motivo específico.
O que tem sufocado a arrecadação das prefeituras em todo o país é o fundo de participação dos municípios que depende do IPI (imposto de produtos industrializados), imposto que vem equivocadamente e sistematicamente sendo subtraído em forma de isenção, principalmente para a indústria automobilística, o que faz reduzir significativamente o repasse do Fundo de Participação aos Municípios.
A Usiminas nasceu na gestão de Juscelino Kubscheck de Oliveira e a região escolhida para a sua implantação, hoje conhecida como Ipatinga, teve a preferência do projeto através de um estudo de viabilidade econômica por parte do estado brasileiro à época.
Os projetos de grande porte como o do aço em nossa região, são viabilizados economicamente e seguem um padrão de instalação que opera a implantação do empreendimento próximo à matéria prima (minério de ferro), que é o nosso caso, próximo do mercado consumidor, ou ainda, pode se adotar um modelo intermediário de localização que fica entre o centro consumidor e a localização de matéria prima.
Coube então, de acordo com os japoneses, cuja característica de instalação de seus projetos a proximidade da matéria prima ocorrer aqui em Ipatinga.
O projeto Usiminas colocou no decorrer do tempo a cidade de Ipatinga como uma das principais cidades do estado de Minas Gerais a qual ainda continua tendo este status. Isto ainda não mudou.
Seguindo as práticas de instalação da companhia dentro do aspecto econômico, era preciso fixar as pessoas que iriam trabalhar no empreendimento aqui em nossa região. Lembremos que nos idos dos anos sessentas a nossa região era completamente tribal. Portanto uma região inóspita.  Assim o estado brasileiro da época utilizou-se de técnicas de incentivo para a fixação de pessoal para tocar, não somente a obra de instalação da empresa, como também tocar o empreendimento. Vieram então os bairros da Usiminas, que foram construídos e habitados de acordo com o grau de importância dos funcionários da empresa, e que teve como principal mote, a aculturação da cidade, diminuindo os conflitos de escolaridade, digamos assim, entre os novos habitantes, e que por sua vez, atendeu ao modelo japonês de hierarquização do espaço.
Lembremos também, que por absoluta falta de atuação do poder público da época, incapaz de compreender a envergadura do investimento que se estava iniciando na cidade, a empresa através do estado brasileiro, teve que tomar a iniciativa do projeto como um todo e se desdobrou para colocar um mínimo de estrutura física na cidade, daí as escolas, o aeroporto, hospitais, criação de cooperativas de crédito e de consumo, operadoras de saúde, zoológico e os clubes nos bairros como meio de facilitar a vida por aqui, e dar um mínimo de dignidade aos funcionários que se dispusessem a vir para a empresa, assim como, para uma população flutuante que permeava a cidade, advindas de outros estados para atender as constantes expansões pela qual a siderúrgica passava para atender a crescente demanda por aço no país. Portanto, era uma prática que iria terminar com o tempo. O que ocorreu. Lentamente a empresa foi retirando os benefícios, a partir do momento que a cidade passava a oferecer melhores condições de vida à população.
O projeto Usiminas em conjunto com os japoneses teve conotações internacionais. Este projeto foi o primeiro empreendimento japonês de grande porte fora do Japão e tinha como objetivo principal mostrar ao mundo que os japoneses detinham essa tecnologia, portanto, tinham capacidade de produção dos chamados bens de capital para empresas de grande porte.
A dívida atual da empresa é realmente elevada. Representa cinco vezes a sua geração de caixa, o que é, naturalmente, desconfortável para qualquer empreendimento.
Com um quadro de pressão nos custos, dificuldades com a concorrência do aço Chinês, baixa produtividade, associada à queda dos níveis de investimentos da empresa, o caminho de demissões e de reavaliação de ativos da empresa para possível alienação (venda) são inevitáveis nestas circunstâncias. Ninguém defende demissões, longe disto, porém é o quadro que se impõe no momento.
Dentro deste contexto lamentável por que passa a Usiminas hoje, e por tabela a cidade de Ipatinga, cabe lembrar que mais do que nunca a cidade e a região depende do poder público constituído, que ainda hoje continua ausente, e vem se mostrando incapaz de mudar o quadro vigente.
Neste contexto a junção de Usiminas, CSN e Gerdau, caminho natural para se combater a entrada feroz da China em nosso mercado, bateu de frente com a ideologia do governo federal de não entender o processo de privatizações ou de junções de empresas como um meio eficaz de se combater o dragão chinês.
É preciso perceber que o baixo grau de representatividade política de nossa região tem feito mais do mesmo, ou seja, apenas reproduzir por aqui tudo o que acontece no planalto central.
Seguindo um processo natural da região, temos a propensão de crescimento do setor metal mecânico com vistas ao atendimento do setor de petróleo e gás que vem se mobilizando e firmando parcerias internacionais para se alavancar na região. Desta forma, os empresários locais vem se mobilizando e se desenvolvendo quase que por conta própria, se lançaram num processo vitorioso de incrementar esse nicho de mercado para a indústria do vale do aço que certamente trará melhores dias para a toda a região.

Finalizando eu diria que Ipatinga não está em crise. O que está em crise por aqui e no Brasil é a falência do setor público brasileiro.

2 comentários:

  1. Muito boa análise, Sérgio, como de outras ocasiões. Aproveito o "gancho" deixado por ti no teu texto para sinalizar quanto à oportunidade que se descortina para a sociedade e Nação brasileira, com o recente movimento popular, em nível nacional, já cognominado por alguns de "Primavera Tropical", numa alusão ao similar que sacudiu o mundo árabe.

    Entendo que embora as evidências da ocorrência de excessos por parte da autoridade policial, bem como dos vândalos oportunistas de plantão, seja inerente do ainda baixo nível de aculturamento de nosso povo, há que se reconhecer que o recente episódio de manifestação de sua indignação demonstra que o "Gigante" não está mais adormecido em berço esplêndido. Acordou! E que esse despertar se desenvolva e evolua até a convocação de uma nova Assembléia Constituinte após eleições gerais com o lançamento de candidatos SEM EXIGÊNCIA DE VINCULAÇÃO PARTIDÁRIA, para operacionalizarmos uma AMPLA reforma partidária e político eleitoral. Há que se pegar este "bonde" e fazer TUDO o que estamos precisando e querendo há séculos de escravidão, seja física, psicológica, cultural ou midiática. CHEGA!!! BASTA!!! NUNCA MAIS!!!!

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  2. Olá João Alves!
    Obrigado pelo comentário. Posso lhe dizer que estamos trabalhando neste tema.
    Grande abraço! Sérgio Pires.

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