Recentemente
a revista Exame publicou uma matéria com o título “Pânico em Ipatinga”, a matéria
foi interessante, mas merece alguns reparos.
Eu
não diria que a cidade está em pânico, nem que as coisas estão difíceis
especificamente por causa das dificuldades que o setor do aço passa no Brasil e
em boa parte do mundo por um momento de retração do consumo de aço por motivos
diversos.
A
queda do IPTU da cidade pode ter, dentre outras causas, o reflexo da paralisia
do mercado imobiliário na cidade, fruto de um Plano Diretor mal concebido e mal
divulgado para a população. O IPTU somente cai se o ente público decretar queda
da alíquota do imposto, se toda a população, por exemplo, se mudar da cidade ou
se um ente importante que paga muito esse imposto deixar de paga-lo por algum
motivo específico.
O
que tem sufocado a arrecadação das prefeituras em todo o país é o fundo de
participação dos municípios que depende do IPI (imposto de produtos
industrializados), imposto que vem equivocadamente e sistematicamente sendo
subtraído em forma de isenção, principalmente para a indústria automobilística,
o que faz reduzir significativamente o repasse do Fundo de Participação aos
Municípios.
A
Usiminas nasceu na gestão de Juscelino Kubscheck de Oliveira e a região
escolhida para a sua implantação, hoje conhecida como Ipatinga, teve a
preferência do projeto através de um estudo de viabilidade econômica por parte
do estado brasileiro à época.
Os
projetos de grande porte como o do aço em nossa região, são viabilizados economicamente
e seguem um padrão de instalação que opera a implantação do empreendimento próximo
à matéria prima (minério de ferro), que é o nosso caso, próximo do mercado
consumidor, ou ainda, pode se adotar um modelo intermediário de localização que
fica entre o centro consumidor e a localização de matéria prima.
Coube
então, de acordo com os japoneses, cuja característica de instalação de seus
projetos a proximidade da matéria prima ocorrer aqui em Ipatinga.
O
projeto Usiminas colocou no decorrer do tempo a cidade de Ipatinga como uma das
principais cidades do estado de Minas Gerais a qual ainda continua tendo este
status. Isto ainda não mudou.
Seguindo
as práticas de instalação da companhia dentro do aspecto econômico, era preciso
fixar as pessoas que iriam trabalhar no empreendimento aqui em nossa região. Lembremos
que nos idos dos anos sessentas a nossa região era completamente tribal.
Portanto uma região inóspita. Assim o
estado brasileiro da época utilizou-se de técnicas de incentivo para a fixação
de pessoal para tocar, não somente a obra de instalação da empresa, como também
tocar o empreendimento. Vieram então os bairros da Usiminas, que foram construídos
e habitados de acordo com o grau de importância dos funcionários da empresa, e
que teve como principal mote, a aculturação da cidade, diminuindo os conflitos
de escolaridade, digamos assim, entre os novos habitantes, e que por sua vez,
atendeu ao modelo japonês de hierarquização do espaço.
Lembremos
também, que por absoluta falta de atuação do poder público da época, incapaz de
compreender a envergadura do investimento que se estava iniciando na cidade, a
empresa através do estado brasileiro, teve que tomar a iniciativa do projeto
como um todo e se desdobrou para colocar um mínimo de estrutura física na
cidade, daí as escolas, o aeroporto, hospitais, criação de cooperativas de
crédito e de consumo, operadoras de saúde, zoológico e os clubes nos bairros
como meio de facilitar a vida por aqui, e dar um mínimo de dignidade aos
funcionários que se dispusessem a vir para a empresa, assim como, para uma
população flutuante que permeava a cidade, advindas de outros estados para atender
as constantes expansões pela qual a siderúrgica passava para atender a
crescente demanda por aço no país. Portanto, era uma prática que iria terminar
com o tempo. O que ocorreu. Lentamente a empresa foi retirando os benefícios, a
partir do momento que a cidade passava a oferecer melhores condições de vida à
população.
O
projeto Usiminas em conjunto com os japoneses teve conotações internacionais. Este
projeto foi o primeiro empreendimento japonês de grande porte fora do Japão e
tinha como objetivo principal mostrar ao mundo que os japoneses detinham essa tecnologia,
portanto, tinham capacidade de produção dos chamados bens de capital para
empresas de grande porte.
A
dívida atual da empresa é realmente elevada. Representa cinco vezes a sua
geração de caixa, o que é, naturalmente, desconfortável para qualquer empreendimento.
Com
um quadro de pressão nos custos, dificuldades com a concorrência do aço Chinês,
baixa produtividade, associada à queda dos níveis de investimentos da empresa, o
caminho de demissões e de reavaliação de ativos da empresa para possível
alienação (venda) são inevitáveis nestas circunstâncias. Ninguém defende demissões,
longe disto, porém é o quadro que se impõe no momento.
Dentro
deste contexto lamentável por que passa a Usiminas hoje, e por tabela a cidade
de Ipatinga, cabe lembrar que mais do que nunca a cidade e a região depende do
poder público constituído, que ainda hoje continua ausente, e vem se mostrando
incapaz de mudar o quadro vigente.
Neste
contexto a junção de Usiminas, CSN e Gerdau, caminho natural para se combater a
entrada feroz da China em nosso mercado, bateu de frente com a ideologia do
governo federal de não entender o processo de privatizações ou de junções de empresas
como um meio eficaz de se combater o dragão chinês.
É
preciso perceber que o baixo grau de representatividade política de nossa
região tem feito mais do mesmo, ou seja, apenas reproduzir por aqui tudo o que
acontece no planalto central.
Seguindo
um processo natural da região, temos a propensão de crescimento do setor metal
mecânico com vistas ao atendimento do setor de petróleo e gás que vem se mobilizando
e firmando parcerias internacionais para se alavancar na região. Desta forma, os
empresários locais vem se mobilizando e se desenvolvendo quase que por conta própria,
se lançaram num processo vitorioso de incrementar esse nicho de mercado para a indústria
do vale do aço que certamente trará melhores dias para a toda a região.
Finalizando
eu diria que Ipatinga não está em crise. O que está em crise por aqui e no
Brasil é a falência do setor público brasileiro.
Muito boa análise, Sérgio, como de outras ocasiões. Aproveito o "gancho" deixado por ti no teu texto para sinalizar quanto à oportunidade que se descortina para a sociedade e Nação brasileira, com o recente movimento popular, em nível nacional, já cognominado por alguns de "Primavera Tropical", numa alusão ao similar que sacudiu o mundo árabe.
ResponderExcluirEntendo que embora as evidências da ocorrência de excessos por parte da autoridade policial, bem como dos vândalos oportunistas de plantão, seja inerente do ainda baixo nível de aculturamento de nosso povo, há que se reconhecer que o recente episódio de manifestação de sua indignação demonstra que o "Gigante" não está mais adormecido em berço esplêndido. Acordou! E que esse despertar se desenvolva e evolua até a convocação de uma nova Assembléia Constituinte após eleições gerais com o lançamento de candidatos SEM EXIGÊNCIA DE VINCULAÇÃO PARTIDÁRIA, para operacionalizarmos uma AMPLA reforma partidária e político eleitoral. Há que se pegar este "bonde" e fazer TUDO o que estamos precisando e querendo há séculos de escravidão, seja física, psicológica, cultural ou midiática. CHEGA!!! BASTA!!! NUNCA MAIS!!!!
Olá João Alves!
ResponderExcluirObrigado pelo comentário. Posso lhe dizer que estamos trabalhando neste tema.
Grande abraço! Sérgio Pires.