Qual a trajetória da classe média emergente brasileira, que tem se fortalecido nos últimos anos e mostra-se hoje como o principal potencial de consumo do país?
Essa é a mais importante pergunta e a mais interessante resposta para os setores varejistas brasileiros. E quem conseguir melhor entender o perfil e o comportamento desses consumidores, desenvolvendo modelos de negócio direcionados a esse segmento, terá uma vantagem competitiva estrutural importante e rentável dentro desse amplo mercado, que vem crescendo desde 2002.
Apesar do poder de compra, o padrão de vida e a disponibilidade de renda dos consumidores da classe C ainda está bem abaixo da média. Com renda entre R$ 291 e R$ 1.250 mensais por pessoa, esse grupo, entretanto, já é maior que as classes A e B juntas e, portanto, vem apresentado um crescimento mais acelerado, no conjunto das classes sociais.
O principal representante da classe média emergente tem perfil típico. É constituído de mulheres, negras, jovens e otimistas, com perspectivas de estudar mais e serem reconhecidas no mercado de trabalho. O poder de escolha dessa consumidora acontece entre categorias e não mais, necessariamente, por marcas, embora conheça e reconheça também marcas líderes e conhecidas. Assim, 68% desse grupo de consumidores possuem mais estudos que os pais e representam 53% da renda deles.
Essa consumidora modelo procura serviços, dedicando 65% de sua renda mensal a isso - ante 49,5% em 2002. Dentro desse universo, a demanda relacionada-se com energia elétrica, saneamento básico, banda larga, telecomunicações, TV a cabo, serviços de beleza e viagens. Não há mais seleção de categorias nos supermercados. Essa consumidora típica pode comprar qualquer produto, e o que normalmente varia é a quantidade comprada e a freqüência dessa compra, comentam os especialistas.
O principal meio de pagamento é, definitivamente, o cartão de crédito. Essas consumidoras entendem que, fazer poupança e pagar à vista, é uma decisão mais inteligente, mas, ainda cedem à atração de ter na hora o que desejam. Pesquisas mostram que existem 97,4 milhões de cartões de crédito nas mãos desses consumidores, chamados, de classe C.
O comprador típico é jovem - 63% com idade entre 18 e 33 anos - muitas vezes casais que querem se casar. Desses, 43% tem ensino superior e 70% possuem renda de até seis salários mínimos. Os principais critérios de escolha do imóvel são a localização e a segurança. Depois que o imóvel fica pronto, esse consumidor aciona financiamentos, seja pelo programa Minha Casa Minha Vida, seja por refinanciamentos junto aos bancos.
Os estudantes dessa classe média, cada vez mais, mostram interesse em adquirir educação superior através de alternativas de financiamentos. Notem que houve uma mudança significativa de preferência em relação ao perfil anterior, de não mais, por apenas conveniência e preço baixo.
Portanto, a classe C brasileira, forma um grupo de pessoas que ganham menos de 10 salários mínimos por mês, representam 90% da população, é responsável por 79% do consumo local, atinge 69% do mercado de cartões de créditos movimentando mais de R$760 bilhões por ano, e contribuem com 86% do total de internautas no Brasil. São milhões de consumidores com bolso de classe média e cabeça de baixa renda.
Para facilitar o entendimento do que seja a classe C brasileira, setores de pesquisa, sugerem alguns dados, onde você pode identificar-se nele, ou mesmo em certos aspectos, identificar seus amigos e seus vizinhos nele também. Desta forma: Bem vindo ao mundo do carnê, do consórcio, do SPC.
Bem vindos ao mundo do metrô, do “buzão”, do lotação, da CBTU, do “semi-novo zerado”.
Bem vindos ao mundo do vale-refeição, do PF e da marmita.
Bem vindos ao mundo do supletivo, da escola de cabeleireiro e do curso de computação.
Bem vindos ao mundo do celular pré-pago e da mega sena.
Bem vindos ao mundo do trabalho informal, da pensão do INSS, do despertador, para as 5 horas da manhã, e da mobilidade social.
Bem vindos ao mundo do Ratinho, do Raul Gil, de Bruno & Marrone, da Banda Calypso, do Calcinha Preta, do MC Léozinho e das Rádios AMs.
Bem vindos ao mundo do supermercado com a família, da cervejinha gelada, da macarronada com frango, e do financiamento da Caixa.
Bem vindos, então, ao mundo surpreendente da economia da base da pirâmide.
Assim, você agora é conhecedor de como funciona a classe C e de onde vem as causas de tantas coisas estranhas que aparecem repentinamente fazendo sucesso por aí. O que, invariavelmente, pode ser relacionado como evidência ou predominância de uma classe promissora.
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