segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

O Brasil, Minas Gerais e a Vale


A Vale, uma das maiores e mais importantes empresas listadas na Bolsa de Valores de São Paulo e de Nova York, controlada por fundos de pensão e bancos públicos e privados brasileiros, bem como de investidores estrangeiros, se meteu, novamente, com problemas de derramamento de barragens causando perdas humanas, biológicas, destruindo biomas e rios por onde passa a lama.
Na realidade, os impactos ambientais da mineração em si são diversos e acontece em variadas escalas visíveis em alterações biológicas, geomorfológicas, hídricas e atmosféricas de grandes proporções. Portanto, conhecer e compreender essas adversidades nos ajudam a buscar meios para minimizar seus efeitos na busca de garantias à preservação dos ambientes naturais aos seres vivos.
As principais alterações nas paisagens e os impactos gerados pela mineração são a remoção da vegetação em todas as áreas de extração; a poluição dos recursos hídricos (superficiais e subterrâneos) pelos produtos químicos utilizados na extração de minérios; a contaminação dos solos por elementos tóxicos; a proliferação de processos erosivos, sobretudo em minas antigas ou desativadas que não foram reparadas pelas empresas mineradoras; a sedimentação e a poluição de rios através do indevido descarte dos materiais produzidos e não aproveitados como rochas, minerais e equipamentos danificados; a poluição do ar a partir da queima ao ar livre de mercúrio, muito utilizado na extração de vários tipos de minérios; a mortandade de peixes em áreas de rios poluídos pelos elementos químicos oriundos das minas; a evasão forçada de animais silvestres previamente existentes na área de extração mineral; a poluição sonora gerada em ambientes e cidades localizadas no entorno das instalações, embora a legislação vigente limite a extração mineral em áreas urbanas; a contaminação de águas superficiais tanto doce como salgada pelo vazamento direto dos minerais extraídos.
Estudos ambientais diversos, indicam, que muitos dos materiais gerados pela mineração são rejeitos, os quais muitas vezes são descartados erroneamente. Embora, nos rejeitos da mineração existam materiais nobres como fero, ouro, cobre e níquel, dentre outros, que podem ser reaproveitados, as mineradoras os deixam em barragens, infelizmente, sujeitas a riscos diversos de engenharia.
Estudos qualificados no Brasil e no exterior demonstram a existência de práticas obsoletas e mais modernas no armazenamento de rejeitos da mineração. Neste sentido, e diante dos desastres de Mariana e Brumadinho, cabe à empresa Vale admitir que está atuando com procedimentos e armazenamentos ultrapassados.
Neste particular é preciso considerar uma nova filosofia de trabalho; o planejamento dos procedimentos; uma estrutura qualificada de pessoal; critérios de contratação e de elaboração de projetos; controle e acompanhamento da construção; controle da operação do sistema de disposição dos rejeitos; um programa de monitoramento e de inspeções; um programa de auditorias e de avaliações de segurança; um plano de atendimento a emergências; critérios de desativação e de armazenamento de rejeitos; estrutura para evacuação de pessoal nas proximidades das barragens; dispositivos de alarme para alerta de pessoal, etc.
Por outro lado, as leis brasileiras precisam acompanhar os protocolos internacionais de segurança e se tornarem rígidas o suficiente na aprovação e controle de projetos de risco. Mais importante do que leis, é fazer com que elas sejam rigorosamente cumpridas sob pena de paralisação  da produção empresarial, até que o evento esteja de acordo com as normas estabelecidas.
Agora, depois dos trágicos acontecimentos em Mariana e Brumadinho, fica patente que punições rigorosas devam ser estabelecidas, logo após severas investigações que constatem crimes à vida humana e ao meio ambiente.
Embora, sejamos um país terceiro mundista, não aceitamos e não aceitaremos procedimentos obsoletos de mineração, seja de empresas nacionais privatizadas ou não, seja de empresas multinacionais que procedam em desacordo com a legislação vigente.
Cabe perguntar: os procedimentos adotados no Brasil estão de acordo com os procedimentos nos países de origem das empresas, ou mesmo, de acordo com as normas e os protocolos internacionais? As legislações municipais, estaduais e federais estão atualizadas e ajustadas às modernizações tecnológicas atuais, atendem às normas de segurança pretendidas atualmente?
Todos sabemos que as atividades mineradoras são importantes para as sociedades. Porém, isso não pode significar um manejo realizado de maneira não planejada, obsoleta e desprovida de fiscalização competente das instalações empresariais por parte do setor público brasileiro.
Neste cenário, cabe às empresas mineradoras promover medidas para o correto direcionamento do material descartado e a contenção da poluição gerada pelos elementos químicos do processo e fazer uma utilização sustentável dos recursos minerais a fim de garantir a sua existência para as gerações futuras. 
Dados internacionais, mostram que uma mina que tenha sido desativada por trinta anos tem seu risco aumento por vinte vezes, o que se registraria um risco anual cumulativo de 0,666%. Diante dessa informação podemos concluir então que uma barragem que apresente melhor custo-benefício é aquela que não se rompe.
Diante de tantas dificuldades, países como o Canadá vêm adotando procedimentos na forma de “dry stacking” (empilhamento a seco), o que dispensa o uso de barragens.
E mais, considerando a finitude dos minerais se tornou consenso nos meios da mineração que os rejeitos de hoje poderão ser o minério de amanhã. Isso reintroduz mais rigor nos procedimentos de geração e armazenagem de rejeitos, o que pode ser traduzido na otimização dos processos, já que os rejeitos possuem aplicabilidades variadas para os setores da agricultura, indústria cerâmica, indústria do vidro, construção civil, dentre outras. Tudo isso nos coloca diante de uma mineração sustentável com procedimentos de “compliance and commitment”, ou seja, conformidade e compromisso.
Afinal, o Brasil, Minas Gerais, Mariana e Brumadinho não podem se transformar no quintal das mineradoras, sejam elas de capitais nacionais ou internacionais!

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