Depois de treze
anos de esquerdismo no Brasil, é hora de virarmos a chave. É hora de fazermos
algumas considerações pertinentes, e mesmo, o de considerar um choque de
realidade.
Visitando o sociólogo e filósofo francês Raymond Aron em seu
livro o “Ópio dos Intelectuais”, publicado há mais de sessenta anos,
verificamos que o mesmo conserva uma impressionante atualidade; pois nele se registra
que o esquerdismo, também pode ser uma religião e uma igreja que abriga
fanáticos e fundamentalistas.
Com uma concepção sistemática da realidade política e histórica, o
pensamento de Aron está calcado na realidade, não em abstrações teóricas.
Segundo o sociólogo, o conhecimento verdadeiro do passado nos remete ao dever
da tolerância, enquanto a falsa filosofia da história dissemina o fanatismo.
Portanto, é nesse atrito deliberado com a realidade tal qual ela é, e
não como gostaríamos que ela fosse, que Aron elabora sua defesa da razão, da
democracia e da liberdade, onde tece sua crítica lúcida ao autoritarismo, ao
fanatismo e à idolatria política.
Sem temer qualquer patrulhamento ideológico, o autor partiu da
constatação de que os mesmos intelectuais e acadêmicos que costumavam ser
impiedosos em suas análises das falhas da democracia liberal demonstravam uma tolerância
infinita diante dos desastres econômicos e das atrocidades políticas cometidas
em nome da doutrina que eles consideravam correta. Assim, qualquer semelhança
com o Brasil de hoje não é mera coincidência. As mesmas pessoas que fecham os
olhos às consequências calamitosas de quase quatorze anos de um projeto de
poder fracassado torcem o nariz diante de reformas tornadas urgentes pela
irresponsabilidade e pela incompetência inerentes aquele mesmo projeto.
Aron demonstra uma virtude cada vez mais rara, e traz para nossa
reflexão a ideia da inteligência do bom senso; onde ao longo de cinco décadas,
fez análises certeiras de fenômenos sociais e políticos os mais diversos,
enxergando muito mais longe e mais fundo do que outros pensadores de sua época.
Na primeira parte de “O ópio dos intelectuais”, ele se dedica a mapear
mitos políticos que ainda estão em vigor: o mito da esquerda, o mito da
revolução e o mito do proletariado. Em seguida, faz reflexões sobre o sentido
da História, em capítulos como “A ilusão da necessidade” e “Homens de igreja e
homens de fé”, nos quais classifica o comunismo como "uma versão aviltada
da mensagem cristã", por sacrificar as liberdades e as diferenças humanas
no altar da ortodoxia do Estado onipotente.
O autor mostra, ainda, que o desenvolvimento da economia contrariou
diversas previsões marxistas aos quais acadêmicos de esquerda ainda teimam em
se ancorar. Por fim, ele investiga a relação dos intelectuais com a ideologia,
apontando para uma busca inconsciente por uma religião.
Na conclusão, Aron pergunta se é possível vislumbrar o “fim da era
ideológica” e o triunfo do poder da razão?
Caso estivesse vivo e visitasse o Brasil, ele veria que as ideologias
estão mais fortes do que nunca, e que a atração de intelectuais por projetos
autoritários ainda continua.
É uma pena que Raymond Aron seja hoje tão pouco lido. Na verdade, nem
Sartre se leem mais. O nível dos pensadores baixou muito, e, infelizmente, o
nível do debate político também.
Voltando para hoje e para o Brasil, podemos dizer que a esquerda caducou
e não evoluiu, mas, despudoradamente se infiltrou nos meios
acadêmicos, artísticos, culturais, religiosos, nos movimentos sociais, e em
grande parte do meio político e do judiciário.
Este é um autor
que deveria ser recomendado em todos os cursos de graduação do país e, excepcionalmente,
colocado como tema de redação do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), lembrando
as atividades de nossos estudantes nesses dois finais de semana.
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