Os mercados globais e, principalmente, os emergentes
vêm sofrendo com a aceleração do dólar. O movimento parece que veio para ficar
diante das turbulências geopolíticas, e das saraivadas de Donald Trump no
oriente médio.
Por aqui o comportamento é de proteção dos
investidores e de empresas diante das turbulências internacionais. Neste
sentido, tem acontecido uma corrida por hedge (proteção) por parte de
empresas e investidores que têm compromissos em moeda estrangeira. Este fenômeno
vem impulsionando as cotações do dólar à vista nas últimas semanas no Brasil.
O gatilho para este movimento do dólar foi à
perspectiva de elevação dos juros nos Estados Unidos e as preocupações em torno
do comércio internacional. Assim, com a expectativa de juros mais elevados nos
EUA, aumentou a tendência de saída de dólares de países emergentes. Um dos
exemplos mais claros disso é a Argentina, onde a fuga de divisas acabou por
forçar um acordo de auxílio com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
No Brasil a coisa acontece diferentemente
de outros emergentes. O mercado brasileiro é mais sofisticado que seus demais
pares emergentes. Temos outros instrumentos. Daí, em um primeiro momento, em
vez de saírem correndo do País, os investidores buscam proteção.
No final de março o dólar comercial chegou
a R$ 3,30; em abril bateu em R$ 3,50 e hoje dia 21/05/2018 chegou à cotação de
R$ 3,69, atingindo uma variação porcentual de 11,82% ante o real, nesse período.
Dados da B3 (a Bolsa de Valores de São
Paulo) mostram que a compra de dólares a termo pelas empresas aumentou 9,7% de
março para abril. Certamente, são empresas que em alguns meses terão de pagar
algum compromisso no exterior e que, em função do avanço do dólar, decidiram
travar agora as cotações.
Muitas empresas que não fizeram o hedge lá
atrás estão buscando a proteção agora, afirmam especialistas. O medo é de que,
com a pressão vinda de fora e as indefinições em torno da eleição presidencial
no Brasil, a alta do dólar continue nos próximos meses.
A disparada do dólar aumentou em R$ 115
bilhões, o total que bancos e empresas terão de desembolsar para fazer frente
às dívidas no exterior, ainda que os empréstimos na moeda estrangeira não
tenham crescido, a variação cambial faz com que sejam necessários mais reais
para pagar o mesmo compromisso. O quadro pode gerar ainda mais preocupação com
a informação do Banco Central de que 46,9% das empresas com dívida em dólar não
contam com proteção à variação do câmbio.
Dados do BC
mostram que a dívida externa de bancos e empresas somava US$ 471,2 bilhões no
fim de março. Esse valor inclui empréstimos bancários, títulos de dívida,
crédito comercial e operações intercompanhias. Em dólar, o montante não oscila
expressivamente há três anos. Convertida para reais, a dívida passou do
equivalente a R$ 1,556 trilhão no fim de março para R$ 1,672 trilhão na última
quinta (dia 17) - uma diferença de R$ 115 bilhões.
Esse cenário traz preocupação,
especialmente, para empresas que eventualmente tomaram crédito em outros
países, mas não estavam preparadas para o dólar mais caro.
Dados do Banco Central indicam que quase
metade das companhias consultadas em 2014 pelo próprio BC não se protegia
contra a oscilação do dólar com o chamado "hedge".
Outros pontos que afetam a cotação do dólar
são as crescentes incertezas sobre as eleições no Brasil; o aperto do juro nos
EUA que pode ser mais intenso que o esperado; além do surgimento de uma
inesperada crise na Argentina que levou o país vizinho a bater no FMI.
A expectativa do mercado é de que a
inflação dos Estados Unidos (EUA) suba devido ao aumento dos gastos do governo,
da reforma tributária aprovada neste ano no país norte-americano e pelo forte
aumento dos preços do petróleo. Com isso, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central
dos EUA) deve elevar os juros de forma mais intensa. Na prática, como a taxa
básica brasileira está no mais baixo nível da história, e o cenário interno é
embaçado por incertezas com as reformas e com as eleições, isso faz com que
investidores migrem seus recursos para os EUA.
No Brasil, a subida do
dólar pode trazer efeitos positivos para os setores ligados à exportação,
impulsionando a balança comercial, mas também prejudicar investimentos em bens
de capital, especialmente, em máquinas e equipamentos.
O câmbio é um
fator extremamente relevante para as empresas que participam do comércio
internacional, seja como exportadoras ou importadoras. O dólar em alta favorece
as exportadoras, pois suas receitas são em moeda estrangeira. Já as
importadoras sofrem nesse cenário, pois seus custos são calculados em dólar.
Estima-se que
33% dos itens do IPCA (índice que mede a inflação brasileira) sofram influência
da moeda americana. É por esse motivo que o dólar em alta preocupa o Banco
Central.
Do lado do governo brasileiro, a melhor resposta é persistir no
processo de consolidação fiscal, ou seja, de melhoria das contas públicas, que
vêm registrando rombos bilionários, pois, avançar na
consolidação fiscal é o nosso grande desafio. É preciso continuar trabalhando para aumentar a
produtividade da nossa economia, para reduzir custos e torná-la mais eficiente.
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