Uma batalha que teve início há pelo menos
20 anos nos tribunais de todo o país pode estar próxima do fim. O Supremo
Tribunal Federal (STF) deve julgar, no próximo dia 27, os processos que pedem a
correção da poupança nos planos econômicos Bresser, Verão, Collor 1 e Collor 2.
As ações foram movidas por quem tinha conta
na poupança aberta entre os anos de 1987 e 1991. Na época, os bancos fizeram
mudanças na correção das cadernetas, passando a aplicar índices novos,
determinados nos planos econômicos.
Os ministros precisam decidir se os índices
aplicados foram corretos ou não. Caso sejam considerados incorretos, o Banco
Central estima que as perdas dos poupadores, somadas, cheguem a R$ 105 bilhões.
Esse seria o valor que teria de ser desembolsado pelos bancos para ressarcir os
clientes.
Os índices de correção reivindicados nos
processos variam de acordo com a época. No caso das contas que estavam abertas
em junho de 1987 (época do Plano Bresser) e cujo aniversário era entre 1º e 15
daquele mês, por exemplo, o índice de correção aplicado foi de 18,02%. Os
processos pedem uma correção maior, de 26,06%.
Os processos estão suspensos desde 2010 por
decisão do próprio Supremo. O julgamento chegou a ser marcado para abril do ano
passado, mas foi adiado pelo ministro Gilmar Mendes, relator do processo.
O número de processos movidos para reaver
as perdas dos planos econômicos é incerto. Quando o STF fez a suspensão, a
maior parte dos processos estava na fase de "conhecimento". Nessa
etapa, o direito ao ressarcimento ainda era discutido.
Uma pequena parte dos processos estava na
fase de "execução", o que significa que o direito ao ressarcimento já
estava conquistado e os valores das perdas tinham sido devidamente calculados e
estavam para ser pagos. Esses processos não foram suspensos e não serão
afetados por uma nova decisão diferente.
Advogados especializados em direito
bancário dizem que, apesar de o STF ter decidido a favor dos poupadores antes
da suspensão, isso não garante que a posição será a mesma agora.
Os novos ministros não vão,
necessariamente, manter o entendimento dos anteriores. Mas, caso decidam de
forma diferente, isso pode colocar o país num grande risco jurídico.
A Federação Brasileira de Bancos (Febraban)
não tem se pronunciado sobre o assunto. No passado, os bancos questionavam a
correção das poupanças com o argumento de que as instituições apenas cumpriram
a legislação e poderiam quebrar caso fossem obrigadas a fazer o ressarcimento.
Na realidade, não cabe ao STF julgar a
parte econômica ou os valores que serão pagos, mas apenas se o pagamento deve
ser feito ou não.
No entanto, a definição
do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a correção das cadernetas de poupança
nos planos econômicos Bresser (1987), Verão (1989), Collor 1 (1990) e Collor 2
(1991) pode ficar para o ano que vem.
Os ministros da corte apostam em dois cenários: um deles é o simples
adiamento do julgamento, marcado para a próxima quarta-feira, e o outro é a
apresentação de um pedido de vista durante a análise do processo.
O governo tem feito forte pressão para influenciar o STF no julgamento.
O governo tem feito forte pressão para influenciar o STF no julgamento.
Na última sexta-feira o ministro da
Fazenda, Guido Mantega e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini,
estiveram no tribunal e se reuniram com o presidente, Joaquim Barbosa.
Eles mostraram estudos sobre os impactos de uma eventual decisão do STF estabelecendo que a poupança não fora corrigida corretamente durante a implementação dos planos econômicos, e que os poupadores devem ser ressarcidos.
Eles mostraram estudos sobre os impactos de uma eventual decisão do STF estabelecendo que a poupança não fora corrigida corretamente durante a implementação dos planos econômicos, e que os poupadores devem ser ressarcidos.
A estimativa do
BC é que isso acarretaria uma perda de R$ 150 bilhões para os bancos, e também
pode gerar uma retração de R$ 1 trilhão no
crédito do país.
O cenário
descrito aos integrantes do STF pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega,
Advocacia-Geral da União, Luís Inácio Adams, pelo presidente do Banco Central,
Alexandre Tombini, e por outros ministros do governo é catastrófico para o
setor financeiro: redução drástica na concessão de crédito, quebra de bancos e
a possibilidade de que sobre para o contribuinte cobrir o rombo que será criado
na Caixa Econômica Federal. Pelos cálculos do BC, um terço do impacto da
decisão acabaria sendo pago pela Caixa, banco com forte atuação na poupança.
O quadro preocupa ainda mais
o governo porque a medida seria implementada em 2014, quando Dilma Rousseff
tenta a reeleição. Ou seja, evitar a vitória dos poupadores é algo extremamente
impopular num ano eleitoral, o que pode ser fatal à presidente.