domingo, 23 de fevereiro de 2020

O Brasil e a Década de Mudanças


Estamos entrando em uma nova década, certamente, de aceleradas mudanças tecnológicas, as quais nos levarão a um quadrante desafiador, não somente individualmente para cada um de nós, como também para os países em geral, principalmente, para os emergentes, o que se refletirá, intensamente, no mundo dos negócios.
Podemos dizer que, realizadas as reformas necessárias a que o país necessita, isso nos levará, certamente, a uma nação diferente em vários aspectos. Porém, a nossa invariável instabilidade como nação, nos acompanhará por algum tempo mais, até atingirmos a idade adulta, ou seja, a maioridade.
Somos ainda um país muito desigual, por vezes ainda infantilizado em nossas decisões, onde o descompasso com a realidade se torna, às vezes, gritante.
Nesse sentido, será um período de maturação dos grandes fenômenos incipientes, assim como há dez anos dada a popularização da internet já se imaginava como ela mudaria o mundo. Da mesma forma, fenômenos detectáveis no mundo de hoje terão seus efeitos mais fortes a partir desse ano, o qual iniciamos.
No Brasil, dado as melhorias no emprego e na renda (ainda que muito lentas), com taxas de juros menores, após a Reforma da Previdência Social, que afastou o risco de calote da dívida pública a curto e médio prazo, contribuirá para a melhora das expectativas dos empresários e do meio econômico em geral, o que é fundamental para a retomada dos investimentos em ativos reais.
Assim, com a queda estrutural da taxa de juros no Brasil, ocasionada pelo controle da inflação e da diminuição do risco da dívida pública, com a introdução da PEC dos gastos e da reformada da Previdência, aliado à estabilização dos preços, os investidores topam agora emprestar dinheiro para o governo a uma taxa de juros menor.
Atualmente, o custo de financiamento do setor governo via Taxa Selic é de 4,25% ao ano, e com a Selic no patamar mais baixo da sua história, o crédito para pessoa física e pessoa jurídica, pouco a pouco, tenderá a ficar mais barato.
Como sabemos, a redução do custo do crédito no varejo e no atacado não ocorre na mesma proporção da queda da taxa Selic, dado que as taxas de financiamento PF e PJ sofrem influência de outras variáveis, como inadimplência, custos operacionais, tributação e concentração bancária.
A diminuição da taxa de juros tem dois efeitos. O primeiro é sobre o consumo. As pessoas ficam mais propensas a consumir no presente, sem a necessidade de poupar para consumir no futuro. Com o aquecimento do consumo, as empresas produzirão mais, trazendo crescimento econômico.
O outro efeito acontece nos investimentos das empresas. Com a queda de juros, o custo de capital das empresas diminui, o que estimula o aumento do investimento (aquisição de máquinas e equipamentos), que também tem impactos positivos sobre o PIB, embora as empresas ainda estejam com elevada capacidade ociosa.
Além disso, como os prêmios no mercado de juros (renda fixa) estão menores (juro real negativo para um ano), os investidores tendem a procurar opções de maior rentabilidade, como investimentos em ações, por exemplo, onde se observa um crescimento do mercado de capitais para os próximos anos.
Tanto o aumento do consumo, como do investimento por parte das empresas, significa aquecimento de demanda a curto prazo. Como o país está com capacidade ociosa (máquinas e mão de obra parada), as empresas produzirão mais sem gerar pressões inflacionárias.
Com a realização das privatizações necessárias para reabastecer os cofres públicos e suspender a sangria de dinheiro que sustenta estatais mal geridas; com a realização de uma reforma administrativa que efetivamente reduza o tamanho do Estado, tornando-o mais eficiente; e com retomada da pauta da desburocratização, tudo isso fará, certamente, um país melhor.
Assim, com a reforma previdenciária concretizada e com o desempenho da equipe econômica de orientação nitidamente liberal, fatores externos, como a guerra comercial entre China e Estados Unidos, e agora as triscas entre EUA e Iran, e uma série de circunstâncias internas, majoritariamente de natureza política, assim como as dificuldades com o coronavírus na China, podem dificultar a retomada brasileira.
Atualmente, o governo não tem capacidade de investimento e, ao mesmo tempo, o país tem déficit de infraestrutura e demanda reprimida. Se as medidas saneadoras forem bem implementadas, poderão assegurar pelo menos uma parte das condições necessárias para a retomada do crescimento.
É fundamental que o Brasil se torne novamente atrativo para os investidores internacionais, mostrando solidez institucional, seriedade na condução da macroeconomia e empenho na adoção de boas práticas no aspecto socioambiental.
Devemos ponderar que, infelizmente, a recuperação da economia não ocorrerá de modo uniforme em todos os segmentos negociais. O agronegócio e a construção civil, por exemplo, têm um dinamismo próprio que favorece sua rápida ascensão, enquanto outros segmentos tendem a demorar um pouco mais. De qualquer forma, o aquecimento da economia e a volta do emprego favoreceriam o país como um todo.
Paralelamente, o Brasil precisa voltar a investir em educação e na formação profissional de seus cidadãos. Somos pouco competitivos e, rankings globais demonstram que estamos menos produtivos do que a média dos trabalhadores de outros países, portanto, já passamos da hora de corrigir essas distorções e de aprimorar o nosso capital humano!
Os principais parceiros do Brasil estão crescendo menos, e essa desaceleração deverá se aprofundar para os anos seguintes, segundo projeções mais recentes
No campo, vivemos uma janela de oportunidades. Hoje, o Brasil é uma potência do agronegócio e das commodities, graças aos recursos naturais e à mão de obra relativamente barata.
A partir de 2020, é possível que a África reúna também essas condições. Precisamos estar mais bem preparados para competir em outro nível, ou seja, no nível da produção de conhecimento. Precisamos buscar um novo patamar de geração de riqueza através da inovação tecnológica. Esse é o caminho.  
Voltando para a realidade de curto prazo, podemos dizer que as consequências econômicas do coronavirus ainda são incertas. Porém, já se apresenta um aumento de aversão ao risco e uma certa depreciação do mercado global, o que contribui para um cenário transitório mais incerto.
Por outro lado EUA e China assinaram a primeira fase do acordo comercial.
Por aqui a atividade econômica segue em recuperação gradual. As previsões do PIB se mantem em 1,2% para 2019 e de 2,2% para 2020.
Segue a criação da comissão mista no Congresso para discutir a reforma tributária e a possibilidade de encaminhamento da reforma administrativa, o que é um alento.
No contexto mundial, analistas vêm um aumento de aversão ao risco e a depreciação de ativos das economias emergentes, porém podem ser passageiros. E no médio prazo espera-se uma pressão negativa na atividade econômica global.
À parte a todas essas circunstâncias, seguem as expectativas de 132.000 pontos para o IBOVESPA até o final deste ano.