Uma dupla inglesa
de escritores sendo um deles colunista de esportes do jornal Financial Times, e
outro um economista especializado em esporte, escreveu um livro com o título
“Soccereconomics” que é muito curioso. Os autores partem de uma tese que
surpreende nestes tempos de copa. Eles perguntam: é dever de um estadista
propor que seu povo fique feliz por um mês que seja? E eles surpreendentemente comentam
que sim. É dever de um estadista fazer seu povo feliz por um mês que seja. E a
copa do mundo é uma oportunidade para você fazer uma festa e deixar seu povo
feliz e orgulhoso por um mês.
Na lógica dos
escritores para que isto ocorra, a primeira coisa que o estadista tem o dever de
fazer é perguntar para o seu povo se ele quer fazer esta festa e comentar com ele
que a festa custará, digamos, R$ 30 bilhões. Nós temos esse dinheiro, porém,
teremos que deixar de fazer alguns investimentos, mas, será uma festa! Vocês
querem? Queremos! Vamos fazê-la, dividindo responsabilidades com a população. Não,
não queremos fazê-la! Então não se faz a festa, como ocorreu em Saint Moritz e
Davos (Suiça), em Munique (Alemanha) e em Estocolmo (Suécia) que acaba de dizer,
em referendo popular, que não querem receber as Olimpíadas de Inverno do COI de
2022, dentro de um processo civilizado e democrático de consulta ao povo.
O que mais os
escritores dizem nesse livro? Dizem que uma copa do mundo assim como nenhum
outro mega evento dá lucro aos países que o recebem. Mas, uma copa do mundo é
uma oportunidade magnífica que um país tem de fazer um anúncio, um comercial de
si mesmo durante um mês. Correndo apenas um risco, o de fazer um mau anúncio. Assim,
até o início da copa fizemos apenas um mau anúncio de nós mesmos. Vejam o que a
imprensa internacional publicou sobre o Brasil antes de a bola (a Brazuca)
rolar, muito embora algumas dessas publicações sejam levianas ou
preconceituosas. Mas, a maioria dos comentários estava correta e, como sabemos,
não foi nada legal.
Na realidade, o
Brasil teve uma crise de megalomania ao fazer uma copa em 12 cidades ao invés
de fazê-la em 8 cidades como era a exigência da Fifa.
Os Estados Unidos
fizeram uma copa em 1994 construindo apenas um estádio novo, adaptando os
estádios de beisebol e de futebol americano para o evento. A França fez uma
copa em 1998 e construiu apenas o estádio De France nos arredores de Paris. Em
Marseille, os dois jogos da seleção brasileira em 1998 simplesmente ocorreram no
mesmo estádio em que o escrete canarinho havia jogado o Mundial de 1938,
portanto, 60 anos atrás.
Por que o Brasil,
a rigor, precisou fazer 12 novos estádios? Não é somente um absurdo fazer um
estádio em Cuiabá que sequer futebol profissional há. É um absurdo fazer um
estádio em Manaus onde também não tem futebol profissional. É um absurdo fazer
um estádio para 70.000 pessoas em Brasília. É um absurdo fazer um estádio em
São Paulo quando se tem o Morumbi em plenas condições de uso. Alguém até poderia
dizer: mas o Morumbi não é o estádio ideal. Correto. Não é o estádio ideal. Mas
o Brasil tem que fazer idealmente, hospitais, escolas, transportes, educação, infra-estrutura
e muito mais para o seu povo! Mas fazer um estádio apenas para um evento de um
mês para cinco ou seis jogos seria o natural para um país que ainda precisa se
construir.