sábado, 3 de dezembro de 2011

Os PIIGS e a Crise Européia


Os países europeus gastaram demais nos últimos anos e chegou a hora de pagar a conta. Daí a varredura dos primeiros ministros Europa afora.
Islândia e Irlanda, países seriamente envolvidos com a crise financeira foram os primeiros a terem seus governos substituídos em meio à turbulência na economia. Em seguida a crise varreu o ex- primeiro ministro trabalhista britânico Gordon Brown, substituído por David Cameron do partido conservador.
O mesmo cenário se repetiu em Portugal onde o socialista José Sócrates deu lugar a Pedro Passos Coelho eleito com uma coalizão de centro direita.
Acordos entre os principais partidos levaram a ascensão do economista Lucas Papademus, ex-vice presidente do Banco Central Europeu a tarefa de reconstruir a economia da Grécia através de acordo para implantação do pacote de austeridade imposto pela União Européia, abrindo caminho para um novo empréstimo de € 130 bilhões. Sem esse recurso a Grécia iria à falência arrastando todo o sistema internacional a uma catástrofe financeira.
Na Itália sai Berlusconi e entra Mário Conti na esteira de melhorar as condições da dívida “Made in Italy”. Na Espanha a última eleição destituiu José Luis Zapatero e elegeu com maioria Mariano Rajoy do conservador Partido Popular. No mesmo sentido Nicolas Sarkozi e Ângela Merkel trabalham suas dificuldades.
A curiosidade, por conta dos elevados gastos dos países europeus endividados que superam o PIB da Alemanha é apelido de PIGS (em inglês: porcos), das letras iniciais na língua inglesa para Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha (Spain) em razão, claro, da situação nada fácil destas economias.
A Itália lidera o clube dos endividados com € 1.900 (um trilhão e novecentos bilhões), ou seja, 120% de seu PIB (soma de bens e serviços produzidos pelo país), com taxa de desemprego de 8,5%. A segunda maior dívida é da Espanha com € 733 (setecentos e trinta e três bilhões), comprometendo 67% do PIB, com taxa de desemprego de 20% (40% de jovens). Segue a Grécia com € 365 (trezentos e sessenta e cinco bilhões), chegando a 165% do PIB, com 18 % de taxa de desemprego. Portugal com € 181 (cento e oitenta e um bilhões), representando 106% do PIB, com desemprego de 12,5% e a Irlanda com € 155 (cento e cinqüenta e cinco bilhões), 109% do PIB, e desemprego de 15%.
Os problemas da Grécia começaram em 2002 com a entrada do país para a União Européia. Para facilitar a sua entrada no bloco as autoridades gregas manipularam os índices e apresentaram um quadro muito mais favorável da economia do país com o que existia na realidade. Na condição de sócios de novos ricos do continente a Grécia passou a tomar empréstimos gigantescos nos bancos europeus. Logo a dívida do país alcançou índices não proporcionais à economia grega. A situação se agravou a partir de 2004 com os investimentos necessários para as Olimpíadas de Atenas. Pouco tempo depois o país entrou em recessão a exemplo dos demais parceiros do bloco. Na tentativa de reaquecer a economia o governo aumentou o salário do funcionalismo e inchou a máquina estatal, distribuiu benefícios e reduziu impostos. Com o aumento do risco os bancos aumentaram os juros e a dívida grega explodiu. Quando a crise estourou no ano passado, o governo anunciou um pacote de austeridade reduzindo salários e pensões, aumentando impostos. Porém, a situação já era grave. Bancos da Alemanha e da França já estavam carregados de títulos podres do tesouro grego e corriam sérios riscos de falência.
Na intenção de minorar a situação a União Européia aprovou dois pacotes de empréstimos para a Grécia no valor total de € 200 bilhões, onde os bancos tiveram de aceitar uma redução de 50% do valor da dívida.
Diante do quadro econômico na Europa a França anunciou o mais radical corte nas despesas desde o fim da segunda guerra, levando a população, a apertar o cinto para geração de uma economia de mais de € 100 (cem bilhões) através de aumento de impostos, mudanças na idade para aposentadoria, passando de 62 anos para 65 anos, redução dos gastos públicos, congelamento de salários dos ministros e do próprio presidente francês.
Os efeitos desses pacotes normalmente trazem o baixo crescimento econômico para os anos seguintes, rebaixamento da nota da dívida pública dos países envolvidos na crise pelas agencias medidoras, e, o calculo de dez anos como tempo necessário para recuperação da Europa.
A china, porém, acompanha com atenção redobrada a crise européia, pois boa parte de suas reservas monetárias está em Euros e a cada ano o comércio dos chineses com os europeus, da ordem de meio trilhão de dólares em mercadorias, tendem a diminuir.
Por enquanto a economia chinesa não mostra sinais de contaminação e segue crescendo em média 10% ao ano, principalmente, na esteira de uma política cambial que tem o Yuãn (moeda chenesa), desvalorizada artificialmente, tornando os produtos “Made in China” mais baratos que de seus concorrentes, gerando grande desequilíbrio na economia mundial.
Enquanto os líderes buscam uma solução para a crise os efeitos da desaceleração da economia na Europa já começam a afetar a balança comercial brasileira. O ritmo de crescimento das exportações brasileiras para a zona do euro neste ano é de 27%, porém, caiu pela metade nos últimos meses.
Dados do FMI dão conta que os impactos da crise do euro vão elevar a posição do Brasil no ranking das maiores economias do mundo, podendo o Brasil chegar a ocupar a sexta posição possivelmente no próximo ano deixando o Reino Unido para trás. A notícia parece boa, desde que também façamos o nosso dever de casa.

Um comentário:

  1. Parabéns, professor!

    Estive na Holanda duas semanas atrás e pude perceber o quanto o estado do "bem estar" foi além do necessário ou pelo menos do que entendemos como razoável. Agora, manter esta cobertura se tornou insustentável. Para o senhor ter uma idéia, na Holanda, um imigrante recebe uma casa para morar independente de começar a gerar, através de uma ocupação formal, riqueza para o país.

    Um grande abraço,

    Adm. Ronaldo Soares
    Negócios & Empregos

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