Com a redução dos juros, o Banco Central diminui a atratividade das aplicações em títulos da dívida pública, o que faz sobrar um pouco mais de dinheiro no mercado financeiro para viabilizar investimentos que tenham retorno maior que o pago pelo governo.
É por isso que os empresários, sempre pedem corte nas taxas de juros, para viabilizar seus Investimentos produtivos.
Nos mercados, reduções da taxa de juros viabilizam, normalmente, a migração de recursos dos fundos de renda fixa para a Bolsa de Valores. Esse mesmo movimento, acontece nos demais países, principalmente, nos Estados Unidos, que ainda continua sendo a maior economia do mundo, quando o Federal Reserve (Banco Central Americano), altera o juro para baixo.
Quando o juro sobe, acontece o inverso na economia. O investimento em dívida pública suga como um ralo o dinheiro que serviria para financiar o setor produtivo.
Mas afinal, o que é Taxa Selic, que baixou de 11, 25% para 10,25%? Selic é a sigla para Sistema Especial de Liquidação e Custódia, criado em 1979 pelo Banco Central do Brasil e pela Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto) com o objetivo de tornar mais transparente e segura a negociação de títulos públicos, mais conhecidos como títulos do governo federal. O Selic é um sistema eletrônico que permite a atualização diária das posições das instituições financeiras, assegurando maior controle sobre as reservas bancárias.
Atualmente, a Selic identifica também a taxa de juros que reflete a média de remuneração dos títulos federais negociados com os bancos. Portanto, é considerada como a taxa básica porque é utilizada em operações entre bancos e, por isso mesmo, tem influência determinante sobre os juros de toda a economia.
Além disso, os juros mais baixos estimulam o consumo de bens duráveis como automóveis e imóveis, normalmente adquiridos, por meio de financiamento, e aumenta o espaço que as empresas têm para reajustar os seus preços, influenciando no nível de inflação.
Fica ainda a discussão sobre mexer ou não na caderneta de poupança, já que a queda dos juros pode sim, estimular aplicações de investidores na velha caderneta, por conta de ficar mais atraente que os títulos de renda fixa, por exemplo.
Estudos estão sendo conduzidos no Ministério da Fazenda e pode ganhar a idéia de tributar os grandes aplicadores com a cobrança do Imposto de Renda a partir de aplicações acima de R$ 100 mil. Essa é a que conta com maior apoio dos políticos, que temem a utilização política da alteração da poupança nas eleições de 2010.
No entanto, o juro no Brasil, sai de o primeiro maior do mundo para o terceiro maior do mundo, o que ainda atrairá muitos investidores internacionais ao país.
domingo, 17 de maio de 2009
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Caso de Boa Ação
Primeiro de janeiro, a moça ia passando pela Avenida Atlântica, feliz de estar de vestido novo, sapato novo, namorado novo (ele ausente, mas era como se caminhassem de mãozinha dada), tudo novo, alma inclusive. Do mar vinha uma brisa que não dava para desmanchar cabelo, eram mansos recados de viagem, outras terras convidando. Não, vou ficar por aqui mesmo, vou andar toda a vida nesta calçada, pensando nele, sentindo ele, estou tão bonita neste vestido, a moça sabia que estava ....
De repente, zapt, a cusparada veio lá do alto do edifício e varreu-lhe o braço direito que nem onda de ressaca. Horror, nojo, revolta: no meio das três sensações, o triste consolo de não ter sido no rosto, nem mesmo no vestido. Como limpar – "aquilo” sem sujar mais? Teve ímpeto de atravessar a rua, a praia, meter-se de ponta-cabeça no mar. Depois veio a idéia de entrar no primeiro edifício, apertar a primeira campainha, rogar em pranto à dona da casa: “Me salve desta imundície!”. Sentia-se tão desmoralizada, que não teve coragem de enfrentar essa suposta dona de casa, talvez estivesse em casa, podia não ser uma dona, podia ser quem?
Felizmente ali estava sentado num banquinho, de transistor ao ouvido, gozando a fresca, o velho porteiro. Dirigiu-se a ele como a um deus encarnado:
- Moço, será que o senhor tem aí nos fundos uma torneirinha dessas de tirar areia dos pés quando a gente volta da praia? Estou muito precisada!
O velhinho olhou-a com olhos neutros, sem afastar o rádio do ouvido, nenhuma expressão na cara. Evidentemente não queria tomar conhecimento do assunto. Tão bem calçada, que história de areia é essa?
Ela procurava esconder a pele conspurcada, mas afinal a exibiu para comover aquele gélido coração:
- Me leva à torneirinha, moço! Olhe só a porcaria!
Ele não queria perder o sossego do domingo, ou desconfiava de um golpe da desconhecida? O certo é que a fisionomia não acusou qualquer reação, até que os lábios começaram a remexer, devagar, a boca mastigando um pensamento.
- Torneirinha eu tenho, mas não serve para a senhora.
- Serve sim, uma garrafa de água serve!
- Vai ensopar seu vestido, não está direito.
- Faz mal não, que me importa o vestido, eu quero é limpar!
Ele sacudia a cabeça inexorável. Até que se levantou, com um gesto: “Venha cá”, e foi levando a moça pelos meandros escuros da garagem. Apontou-lhe a pia, conforto muito maior que a torneirinha de emergência:
- A senhora espere aí.
E saiu, deixando o radiozinho à beira da pia. A moça não pôde deixar de pensar: “Fiz mau juízo dele pensando que ele fazia mau juízo de mim. Sem me conhecer, deixou o transistor ao alcance de minha mão. A coisa mais preciosa que tem, com certeza! Se eu fosse um vigarista ...”. O homem custava. Apareceu, afinal, com uma toalha limpa e um sabonete embrulhado, recomendando-me que esfregasse bem, não tinha pressa.
Nunca a água lhe pareceu tão boa, sabonete nenhum tão fino, a pia era um sonho. Sorriu para o velho, limpa de toda a mácula.
- O senhor praticou a sua primeira ação boa do ano sabe?
Ele sorriu também, recompensado. Ora, ora, uma nojeira dessas, quem que pode?
- Atirada talvez deste mesmo edifício ...
- É capaz. A gente vê de tudo.
Gratificá-lo com dinheiro seria tão indecente quanto cuspir da janela – pensou a moça. Tirou da bolsa um maço de cigarros, pediu-lhe que aceitasse.
Não queria; para não fazer desfeita, aceitou.
- Se precisar de mim outra vez, estou às ordens.
- O quê? O senhor acha que eu vou ser cuspida outra vez, moço?
- Não é isso não, não é isso, mas a gente nunca sabe o que pode acontecer a uma senhorita!
Fonte: Carlos Drummond de Andrade.
De repente, zapt, a cusparada veio lá do alto do edifício e varreu-lhe o braço direito que nem onda de ressaca. Horror, nojo, revolta: no meio das três sensações, o triste consolo de não ter sido no rosto, nem mesmo no vestido. Como limpar – "aquilo” sem sujar mais? Teve ímpeto de atravessar a rua, a praia, meter-se de ponta-cabeça no mar. Depois veio a idéia de entrar no primeiro edifício, apertar a primeira campainha, rogar em pranto à dona da casa: “Me salve desta imundície!”. Sentia-se tão desmoralizada, que não teve coragem de enfrentar essa suposta dona de casa, talvez estivesse em casa, podia não ser uma dona, podia ser quem?
Felizmente ali estava sentado num banquinho, de transistor ao ouvido, gozando a fresca, o velho porteiro. Dirigiu-se a ele como a um deus encarnado:
- Moço, será que o senhor tem aí nos fundos uma torneirinha dessas de tirar areia dos pés quando a gente volta da praia? Estou muito precisada!
O velhinho olhou-a com olhos neutros, sem afastar o rádio do ouvido, nenhuma expressão na cara. Evidentemente não queria tomar conhecimento do assunto. Tão bem calçada, que história de areia é essa?
Ela procurava esconder a pele conspurcada, mas afinal a exibiu para comover aquele gélido coração:
- Me leva à torneirinha, moço! Olhe só a porcaria!
Ele não queria perder o sossego do domingo, ou desconfiava de um golpe da desconhecida? O certo é que a fisionomia não acusou qualquer reação, até que os lábios começaram a remexer, devagar, a boca mastigando um pensamento.
- Torneirinha eu tenho, mas não serve para a senhora.
- Serve sim, uma garrafa de água serve!
- Vai ensopar seu vestido, não está direito.
- Faz mal não, que me importa o vestido, eu quero é limpar!
Ele sacudia a cabeça inexorável. Até que se levantou, com um gesto: “Venha cá”, e foi levando a moça pelos meandros escuros da garagem. Apontou-lhe a pia, conforto muito maior que a torneirinha de emergência:
- A senhora espere aí.
E saiu, deixando o radiozinho à beira da pia. A moça não pôde deixar de pensar: “Fiz mau juízo dele pensando que ele fazia mau juízo de mim. Sem me conhecer, deixou o transistor ao alcance de minha mão. A coisa mais preciosa que tem, com certeza! Se eu fosse um vigarista ...”. O homem custava. Apareceu, afinal, com uma toalha limpa e um sabonete embrulhado, recomendando-me que esfregasse bem, não tinha pressa.
Nunca a água lhe pareceu tão boa, sabonete nenhum tão fino, a pia era um sonho. Sorriu para o velho, limpa de toda a mácula.
- O senhor praticou a sua primeira ação boa do ano sabe?
Ele sorriu também, recompensado. Ora, ora, uma nojeira dessas, quem que pode?
- Atirada talvez deste mesmo edifício ...
- É capaz. A gente vê de tudo.
Gratificá-lo com dinheiro seria tão indecente quanto cuspir da janela – pensou a moça. Tirou da bolsa um maço de cigarros, pediu-lhe que aceitasse.
Não queria; para não fazer desfeita, aceitou.
- Se precisar de mim outra vez, estou às ordens.
- O quê? O senhor acha que eu vou ser cuspida outra vez, moço?
- Não é isso não, não é isso, mas a gente nunca sabe o que pode acontecer a uma senhorita!
Fonte: Carlos Drummond de Andrade.
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